Até terça-feira (16), dia marcado para a votação do pedido de cassação do vereador Sandro Fantinel (sem partido) por falas xenofóbicas contra os baianos, a atenção sobre o caso só irá aumentar. É inevitável. A fala de Fantinel na tribuna da Câmara em 28 de fevereiro ecoou muito além do Mampituba. Ele pediu desculpas depois, disse que foi acometido de um "lapso mental", mas o discurso fez retumbar pelo país uma manifestação preconceituosa e desrespeitosa com trabalhadores e a população da Bahia. Exigiu pedido de desculpas do governador Eduardo Leite. Assim, a Câmara de Caxias do Sul deve satisfações ao país.
O que a Câmara vai votar na terça-feira — cassar ou não cassar o vereador Fantinel — não se trata de uma decisão paroquial, restrita à jurisdição e aos limites do território caxiense, e depois voltar à ordem do dia com votação de projetos nas sessões seguintes, e vida que segue. A decisão é muito mais ampla, e de muita responsabilidade. Como representação política do município, condição que a Câmara carrega, envolve também a exposição da própria Casa e da cidade. Ao votar na terça-feira sobre o futuro político do vereador, a Câmara e o município de Caxias do Sul dirão ao país se chancelam ou não o discurso de Fantinel. Não há outra compreensão possível aos 23 vereadores sobre as consequências do voto a ser dado.
Vale também para as bancadas e para os partidos. Cada vereador — com exceção do próprio Fantinel, que está sem partido — atrela o voto à sua sigla. Claro que há relativizações que cada parlamentar pode fazer ao decidir em foro íntimo a partir de critérios pessoais, e será legítima cada tomada de decisão. Mas esse contexto mais amplo, que considera o país, ele é real e inafastável.
Até esta quinta-feira, quando a Comissão Processante concluiu seu parecer e recomendou a cassação, e até esta sexta, quando a Mesa Diretora marcou a data da sessão, a reflexão de cada vereador sobre o voto a ser dado não estava afetada pela premência do calendário na resposta a ser dada ao país. Agora está. O voto pode ser de um jeito ou de outro. Mas ele produzirá consequências mais amplas do que a cassação pura e simples ou o arquivamento do proceso. O país estará atento à resposta que será dada pela Câmara e pela cidade na terça-feira.
Cenário atual ainda não é definitivo
Neste momento, os bastidores do Legislativo fervilham de cálculos e cogitações sobre se o número de votos será suficiente para salvar o vereador Sandro Fantinel ou não. Numericamente, a composição e a orientação política da Câmara, bem como a proximidade política de parte dos vereadores com Fantinel, indicam uma percepção de bastidor de que a cassação pode ser rejeitada. Afinal, são necessário não mais do que oito votos para isso. No entanto, esse cenário não pode ser dado como definitivo, visto que a atenção sobre o caso só irá aumentar a partir de agora.