
O almoço de Páscoa, no domingo (20), marcou um reencontro histórico e cheio de emoção em Quinze de Novembro, município de 4 mil habitantes do noroeste gaúcho. Onze irmãos que não se conheciam até poucas semanas antes, se reencontraram pela segunda vez — a primeira em solo gaúcho — depois de 66 anos de distância e silêncio.
A história começa em 1959, quando Osvaldo Baumgardt deixou a esposa Írika Ruppenthal Baumgardt e os quatro filhos que viviam em Quinze de Novembro para viver com a vizinha do casal, Nilda de Oliveira Lutz, em Tenente Portela.
Com o passar dos anos, Osvaldo teve mais 16 filhos, seis no Rio Grande do Sul e 10 em Santa Catarina. A maioria deles cresceu sem saber da existência dos outros irmãos.
A reviravolta começou quando Marli Baumgardt, neta de Osvaldo, passou a investigar o paradeiro do avô depois da morte da avó Írika em 2013.
— Ela não queria saber dele. Só depois que ela faleceu é que eu senti vontade de entender essa parte da nossa história — contou Marli.
Marli buscou por informações por 12 anos, sem sucesso. Neste ano, depois de mais de uma década de buscas, Marli descobriu que Osvaldo morreu em 1999 em Belmonte, no oeste catarinense. Foi também quando ela soube que o avô havia deixado muito mais do que saudades: havia uma nova família, com outros 16 filhos.
Com a ajuda de funcionários da prefeitura e da Secretaria de Saúde de Belmonte, Marli conseguiu localizar os parentes que jamais imaginou ter.
— No começo, achei que podia ser golpe, mas quando ouvi a história, vi que era de verdade. Foi emocionante participar disso — lembra a auxiliar administrativa Claudinéia Mistura, que atendeu Marli por telefone.
O primeiro encontro entre os irmãos aconteceu em março, em Santa Catarina. No domingo de Páscoa, foi a vez dos gaúchos receberem os novos familiares. O reencontro, que aconteceu na cidade onde tudo começou, reuniu cerca de 30 pessoas de três gerações diferentes.
Em busca do tempo perdido
Dona Lurdes, a filha mais velha de Osvaldo, não esconde a mágoa pela atitude do pai, mas se disse grata ao ver tantos rostos desconhecidos e, ao mesmo tempo, familiares.
— Ficou a mágoa por ele ter saído de casa daquela forma, com certeza, mas é uma grande emoção encontrar tantos irmãos de uma vez só. A gente tem que continuar se encontrando — afirmou, emocionada.
O primeiro a falar com Marli foi Ari, o filho mais velho da segunda esposa de Osvaldo, Nilda. Ele confessou a angústia e o receio no início, mas admitiu a emoção quando ocorreu o primeiro encontro.
— Quando nos abraçamos, parecia que nos conhecíamos desde sempre. Já no olhar a gente sentiu o amor de irmão — lembrou Ari.
Durante o encontro em Quinze de Novembro, os 11 irmãos fizeram dinâmicas, brincadeiras, música e, claro, um grande almoço, como manda a tradição familiar.
— Eles já foram lá, agora nós viemos aqui retribuir. A união da família agora vai ser pra sempre — contou Lucilene, uma das netas de Osvaldo.
Dos 20 filhos que Osvaldo teve, dois já morreram e sete não puderam participar do encontro na Páscoa. Os 18 porém, se conheceram em março, em Santa Catarina. O desejo da família agora é manter os laços e recuperar o tempo perdido.
— Eu nunca imaginei que teria 16 irmãos a mais. A gente ouvia boatos, mas era tudo muito vago. Quando vi, nossa família tinha mais que dobrado — disse Marli, em meio a risos.