Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) identificou altos níveis de mercúrio nas águas dos rios Ligeirinho, Leãozinho e da barragem da Corsan, responsável pelo abastecimento público de Erechim, no norte gaúcho.
As coletas de amostras foram realizadas mensalmente em três pontos de cada rio e em dois pontos da barragem, desde a nascente até o ponto de mistura das águas. O estudo foi realizado ao longo de 2024.
Além da presença de mercúrio, a análise revelou altos níveis de coliformes termotolerantes (bactérias que conseguem se desenvolver em temperaturas até 45ºC) e nitrogênio amoniacal (amônia), o que indica contaminação por matéria orgânica e possível interferência de atividades agrícolas e despejos de resíduos.
O trabalho foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da UFFS, pela engenheira ambiental e sanitarista Inete Cleide Baú. A presença do mercúrio surpreendeu a pesquisadora, uma vez que o entorno da região estudada não apresenta indústrias ou fontes evidentes de contaminação.
— A hipótese mais provável é que essa contaminação seja resultado do uso de agrotóxicos contendo mercúrio, o que é preocupante devido ao seu potencial de bioacumulação na cadeia alimentar — analisa Inete.
Atualmente, o tratamento da água em Erechim segue o modelo convencional, que consiste em etapas físicas e químicas para remover impurezas e microrganismos da água bruta. No entanto, a pesquisadora aponta que tecnologias avançadas poderiam aprimorar a qualidade da água distribuída à população.
— O uso de carvão ativado, membranas de ultrafiltração, osmose reversa e ozonização poderiam melhorar a remoção de contaminantes, embora essas soluções tenham custos elevados. A melhor estratégia é investir na conservação ambiental, com proteção de matas ciliares e redução do uso de químicos na agricultura — acrescenta.
O que diz a Corsan
Procurada pela reportagem, a Corsan afirmou, em nota, que "desconhece qualquer estudo e resultados feitos pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)" e reforça que a água tratada e distribuída em Erechim "passa por rigoroso controle de qualidade".
Confira na íntegra:
"A Corsan desconhece qualquer estudo e resultados feitos pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). E reforça que a água tratada e distribuída à população de Erechim, assim como nos outros 316 municípios atendidos pela companhia, passa por rigoroso controle de qualidade.
A água captada pela Corsan em rios, lagos, barragens ou poços passa por rigoroso tratamento antes de ser distribuída para consumo. Somente depois de todos os procedimentos de tratamento da água e controle de qualidade, com testes diários nos laboratórios das ETAs e poços e de amostras analisadas no laboratório Central da Companhia e 100% dentro dos parâmetros exigido pelas portarias de potabilidade do Ministério da Saúde e de agrotóxicos da Secretaria Estadual de Saúde, é que a água sai das Estações de Tratamento (ETAs) e daí para os reservatórios, onde é armazenada para ser enviada aos clientes.
As amostras coletadas passam também pelo Laboratório Central de Águas, localizado em Porto Alegre, que atende os 317 municípios do Rio Grande do Sul abastecidos pela Corsan."