
Apaixonada pela natureza e orgulho da família: assim Maria Carmelinda Correia resume a lembrança da única filha Ana Júlia Correa Vieira, 19 anos. A jovem morreu na terça-feira (4) ao ser levada pela força da água depois da abertura de comportas de barragem no Rio Jacuí, em Salto do Jacuí, no noroeste do Estado.
De Salto do Jacuí, Ana Júlia morava em Santa Maria há dois anos, onde cursava o quinto semestre de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Durante o feriado de Carnaval, Ana Júlia visitava a cidade da família e decidiu se refrescar no Rio Jacuí com um grupo de amigos. Ela foi levada pela água depois da abertura das comportas da barragem instalada no Rio Jacuí.
Menos de 24h depois do corpo ser encontrado, às 22h30min de terça (4), a mãe tenta assimilar a perda da jovem, que era a fortaleza da família:
— Ela estava aproveitando o feriado aqui conosco porque é muito envolvida com a faculdade e só tinha vindo no recesso de fim de ano. Ela amava a natureza, gostava do mato e na água. Amava o Rio Jacuí e ele levou ela de mim.
O amor pela natureza era registrado pela Ana Julia nas redes sociais. A última postagem, no domingo (2), mostra fotos da jovem mergulhando no Salto do Jacuí durante o entardecer. A postagem já acumula mais de 200 comentários de amigos lamentando a tragédia.
— Para sempre vou lembrar da menina gentil, inteligente e querida que eras — escreveu um dos usuários.
Jovem não conseguiu sair da água a tempo
A informação repassada pelo Corpo de Bombeiros de Cruz Alta é que de Ana Julia estava com um grupo de pessoas no espaço, quando um sinal sonoro foi emitido pela barragem para a abertura das comportas. Todos que estavam na cachoeira conseguiram sair, exceto a jovem, que foi levada rio abaixo.
Ainda conforme a mãe, há relatos de pessoas que não ouviram o sinal sonoro e correram:
— Me contaram que tinha mais de 80 pessoas lá, entre famílias e crianças, e ninguém ouviu o sinal de que iam abrir as comportas. Quando começou a descer a água é que começaram a correr, mas para ela foi tarde. Eu peço que as autoridades alertem, que coloquem fiscalização no local, para que ninguém mais passe pelo que estou passando.
GZH Passo Fundo questionou a CEEE Geração, responsável pela hidrelétrica, sobre o sinal sonoro. Segundo a companhia, a sirene soa toda vez que há aumento da vazão para geração de energia elétrica. Em relação ao volume de água, depende da quantidade de energia que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determina que seja gerada (veja o posicionamento completo abaixo).
A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar o caso — até agora, tratado como acidente.
Ana Júlia será sepultada no Cemitério Municipal de Salto do Jacuí nesta quarta-feira (5), às 18h30min. O velório começou às 14h na Capela São José.
Posicionamento na íntegra da CEEE Geração
"A CEEE Geração lamenta profundamente a fatalidade ocorrida ontem, 04/03, na cascata do Saltinho, em Salto do Jacuí/RS, cujo acesso fica em propriedade de terceiros. A empresa reforça que todos os procedimentos operacionais que são realizados rotineiramente na barragem Maia Filho seguem rigorosamente as diretrizes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
É importante esclarecer que a usina em questão é despachada pelo ONS, ou seja, o órgão determina o início e o fim da geração de energia de acordo com a necessidade no RS e no Brasil. Conforme o procedimento, a sirene soa toda vez que há aumento da vazão para geração de energia elétrica. Em relação ao volume de água, depende da quantidade de energia que o ONS determina que seja gerada.
As comportas foram fechadas imediatamente em atendimento à solicitação dos Bombeiros. A CEEE Geração reitera seu pesar e se solidariza com os familiares e amigos da jovem, neste momento de dor".