Aposentado dos gramados, o maior goleador da história do Gauchão, Sandro Sotilli mora em Passo Fundo e curte a vida de influenciador digital. Às vésperas do início de mais um Campeonato Gaúcho, o ex-jogador falou em entrevista sobre a competição, sua vida atual, a passagem pelos clubes da cidade onde vive e lembrou da ocasião em que foi treinador por duas semanas.
Sotilli está há 11 anos longe dos gramados e, desde então, está focado nas redes sociais, onde conta com mais de 480 mil seguidores. Isso transformou a vida do jogador, que participa e promove eventos por todo o Rio Grande do Sul. Ele revelou que participa de mais de 10 eventos por mês, entre bailões e jogos festivos.
— Participo de eventos corporativos, participo de eventos com ex-atletas. Eu consigo participar de um bailão, eu consigo organizar um bailão, que são coisas diferentes. A gente tem apoiadores e viaja para muitas cidades. Por exemplo, ano passado, nos últimos dois anos, eu fiz uma média ali, eu fiz 120 eventos por ano — revelou.
O ex-atleta confirma que colhe os frutos da imagem gerada quando ainda era jogador profissional com muita fama no interior do Estado. Em 20 anos de carreira, Sotilli marcou 111 gols no Gauchão em aproximadamente 15 clubes em que jogou. Sendo o artilheiro em duas edições: em 2002 pelo 15 de Novembro, de Campo Bom (20 gols), e em 2004, pelo Glória, de Vacaria (27 gols).
Artilheiros do Gauchão
Na entrevista, o ex-jogador comentou sobre as diferenças do futebol de sua época e de agora. Nos anos 1990 até o início da década de 2010 era comum os goleadores do Gauchão marcarem perto de 20 gols por edição. Porém, faz nove anos que nenhum dos artilheiros do Estadual ultrapassou a barreira dos 10 gols.
Hoje não tem mais a figura do centroavante, o cara que usa o número 9, que é o responsável direto pelos gols.
SANDRO SOTILLI
Maior artilheiro da história do Gauchão.
O último a conseguir este feito foi Michel, pelo Passo Fundo em 2015, quando marcou 11 gols no Gauchão. Em 2024, os artilheiros foram Cristaldo e Diego Costa do Grêmio, ambos com seis gols. Para o ex-goleador, há uma mudança no estilo de jogo:
— Hoje não tem mais a figura do centroavante, o cara que usa o número 9, que é o responsável direto pelos gols. Na minha época, eu batia o pênalti. Além disso, o time jogava em função do centroavante. Hoje, a maioria dos times, inclusive os três que jogam na Série A do Brasileiro, perderam essa figura do centroavante, um cara de referência.
Ele ressalta que não vê deficiência na qualidade dos jogadores e aponta outro motivo para o menor número de gols.
— Não acho que o baixo número de gols seja por questão técnica. Temos bons jogadores. A diferença é que atualmente o Gauchão tem menos jogos. O atleta teria que fazer mais gols em menos partidas — explicou.
Por estes motivos, Sotilli não acredita que a sua marca será alcançada tão cedo.
— Eu acho um pouco difícil, né? Eu acredito que se não mudar o formato do campeonato, por enquanto, é difícil. Normalmente, o goleador do Gauchão ganha mais visibilidade e acaba chamando atenção de times grandes de fora do Estado. Então, dificilmente um atleta vai permanecer no próximo ano jogando no Campeonato Gaúcho — completou.
Vida em Passo Fundo e período de duas semanas como treinador
No final da carreira, Sandro Sotilli resolveu fixar residência em Passo Fundo, onde nasceu sua esposa. Na cidade, defendeu o Tricolor na Divisão de Acesso. Em 2012, teve sua temporada mais marcante: fez 13 gols, ajudando o Passo Fundo a conquistar a vaga na elite do futebol gaúcho.
Então, em 2013, jogou pelo rival do Tricolor, o Sport Clube Gaúcho. O clube não teve bom desempenho em campo, mas foi no Alviverde que ele viveu um dos momentos mais inusitados da carreira. Depois de marcar três gols em nove jogos na Divisão de Acesso, ele foi o treinador do time nas últimas duas rodadas da competição. Foram dois jogos fora de casa e duas derrotas.
— Ficamos sem técnico e eu acabei sendo treinador por dois jogos porque eu me machuquei. Estava em final de temporada, o Gaúcho não queria contratar o treinador e eu não podia jogar — explicou Sotilli e completou:
— O presidente do clube na época era o Gilmar Rosso. Ele propôs que eu assumisse os dois jogos e aceitei. Os dois jogos foram fora de casa contra o Riograndense, de Santa Maria, e Farroupilha, de Pelotas. Perdemos os dois por 1 a 0. Foi outro tipo de adrenalina, outra preocupação, montando treinos.
Após a aposentadoria, Sotilli até fez cursos de treinador, pensando em seguir a carreira no futebol como técnico ou diretor. No entanto, a vida no mundo digital o fez mudar de ideia:
— Na época, eu pensei: “vou surfar esse momento”. Eu pensava que iria durar dois ou três anos. Já são mais de 10 anos vivendo das redes sociais. Por enquanto, vou seguir desfrutando do que o futebol me deu e vou tentando inovar. E é muito bom. Não tem aquela cobrança, tem o carinho das pessoas que te recebem bem. Isso não tem preço.