A oferta e demanda por roupas e itens usados crescem exponencialmente em Passo Fundo, no norte gaúcho, há pelo menos três anos. A alta no ramo é capitaneada pelas "brechozeiras" — empreendedoras que encontraram nos brechós a independência financeira e ressignificação da moda.
Conforme dados do Sebrae, Passo Fundo tem hoje 36 empresas listadas como comércio varejista de artigos usados. Mas o número tende a ser maior, uma vez que muitos brechós não têm registro formal ou espaço físico.
O movimento revela uma mudança no padrão de consumo: muitas pessoas passaram a substituir a compra de itens novos pelas peças de segunda mão. Na grande maioria dos casos, a transformação tem mulheres à frente dos negócios.
A empreendedora Bruna Ribas, 28 anos, virou referência no ramo ao lançar na própria casa o Brechó de Garagem. O interesse começou quando ela deu à luz gêmeos, há oito anos.
— Eu precisava unir qualidade e preço justo nas coisas que eu tinha que comprar para eles, como carrinhos, bebê conforto e roupas, calçadinhos, enfim, tudo que bebês precisam. A partir disso foi natural aderir para mim e minha família. Da necessidade, surgiu uma paixão pela moda circular — lembra.

As edições acontecem mensalmente e agregam diversas donas de brechó, que expõem itens de diferentes estilos e tamanhos, todos com preços acessíveis. A vantagem financeira, inclusive, é um dos atrativos para os compradores, além da possibilidade de encontrar peças únicas, como afirma a coordenadora do curso de Design de Moda da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dulci Antunes.
— O fast fashion tomou conta do mundo com uma produção muito agressiva e hoje em dia o brechó tem outra conotação. Você encontra roupas de maior qualidade e que atingem todos os níveis econômicos, da classe A, com itens usados de luxo, até a D. É um movimento sustentável em ascensão — diz.
Renda e arte
Além de ser o público que mais consome artigos de vestuário e acessórios, as mulheres também aderiram ao negócio como forma de complementar a renda, mas, para muitas, tornou-se a principal fonte de ganho.
— A mulher tem preocupação em vestir a família, em economizar, então ela vai buscando possibilidades de economia para vestir todo mundo. Esse ainda é um papel muito delegado às mulheres, que passam também a ter essa visão de trabalho e renda — analisa Antunes.
A expressão criativa envolvida no processo também motiva a inserção no meio: criar uma marca, garimpar peças, fazer a curadoria e montar diferentes looks move o trabalho da jovem Julia Montano, 22 anos, criadora do Penny Brechó.
Sem espaço físico, ela reúne mais de 7 mil seguidores nas redes sociais e uma disputa acirrada pelos drops (lançamento de itens para venda) na página.

— Encontrei no brechó um cantinho onde pude "colocar pra fora" tudo que me inspira: as subculturas da moda vintage, as estéticas que marcaram épocas e a liberdade de quem veio antes e abriu caminho para o que a moda representa hoje — explica.
Julia já vendeu mais de 500 peças para diversas regiões do país. O trabalho de garimpo dos itens muitas vezes é feito em brechós beneficentes. Para ela, as roupas contam histórias sobre pessoas e culturas.
— Sinto que consigo, de alguma forma, ajudar causas importantes por meio do meu trabalho. Para mim nunca é só sobre a roupa, mas sim sobre as histórias e movimentações culturais que ela representa. Isso é algo que levo muito a sério e é uma das etapas mais importantes do meu processo de curadoria. Escolho peças com autenticidade, presença e liberdade — terminou.