
Em busca de uma oportunidade de negócios e trabalhar com o que amam, a presença feminina tem se tornado cada vez mais comum no empreendedorismo gaúcho. Em Passo Fundo, as mulheres encontram no próprio negócio uma forma de independência financeira e de se reinventar profissionalmente.
Na área há 10 anos, a dona de brechó Marli Biolchi viu no empreendedorismo uma chance de voltar a trabalhar depois de tratamento de saúde. Um problema nas mãos fez ela deixar de atuar como massagista e ir em busca de cursos na área de moda, onde se encontrou:
— A ideia do brechó surgiu em um momento difícil da minha vida, quando precisei me reinventar. Sempre amei moda e customizava minhas próprias roupas. Minhas amigas elogiavam muito e diziam que eu deveria vender, e foi aí que acendeu a luz de transformar esse talento em um negócio.
Além de aprender sobre questões financeiras, de estoque e divulgação para fazer o negócio “deslanchar”, Marli também aponta desenvolvimentos pessoais que ela teve com o empreendedorismo. Segundo ela, tocar o próprio negócio a fez mais independente e dedicada:
— Aprendi a me reinventar, a ter coragem e a enxergar oportunidades onde antes via dificuldades. No começo foi desafiador, mas foi um aprendizado valioso. Me tornei mais independente. Hoje sei que meu sustento vem do meu esforço, dedicação e carinho que coloco em cada peça e cada atendimento, e isso não tem preço.
Uma apoia a outra

Embora o impacto seja evidente, a jornada das mulheres é marcada por desafios que tornam a tarefa de ter uma empresa ainda mais complexa. No caso da Pamela Andressa Cavalheiro foi o fato de se tornar mãe que a fez deixar o trabalho fixo e tentar novas alternativas.
Com pós-graduação em Psicopedagogia, ela deixou o emprego como professora em escola para dar conta da criação do primeiro filho. Quando o pequeno completou dois anos, ela e o marido resolveram abrir uma xisaria em casa, como forma de renda extra.
— Eu tentei outros empregos, mas meu filho era pequeno e precisava ficar com ele. Abrimos a xisaria em 2018 e hoje é a principal fonte de renda da família, somos os dois autônomos — relembra Pamela.
Estabilizada, ela buscou ajudar outras mulheres do ramo a se desenvolverem também. Junto da mãe e da irmã, organizam O Bazar das Margaridas a cada dois meses, para expor seus produtos. O grupo reúne cerca de 100 mulheres de toda a região que participam dos Bazares:
— É uma rede de apoio. Quando largamos nossos empregos tem uma mudança significativa. Nosso horário exige que estejamos dedicadas ao nosso próprio negócio. Além de te exigir outra habilidades, como a venda e a comunicação. Então o grupo é para isso também, a gente se apoia e oferece um lugar físico para todas venderem seus produtos.
Perfil das empreendedoras gaúchas
Uma pesquisa do Sebrae RS divulgada fevereiro mapeou o perfil das empreendedoras gaúchas: a maioria (60%) tem entre 30 e 49 anos, 84% se autodeclaram brancas e 59% possuem ensino superior completo ou pós-graduação.
No quesito família, parte (37%) das mulheres empresárias são as únicas responsáveis pelo sustento da família, enquanto 76% têm filhos, sendo uma média de dois por empreendedora.
A economista e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Cleide Fátima Moretto, analisa como a maternidade pode influenciar no tipo de trabalho que a mulher buscará, uma vez que precisa estar disponível para a criação dos filhos, em grande maioria:
— Os desafios são potencializados com o nascimento dos filhos, uma vez que as mulheres costumam gastar mais horas do que os homens em tarefas domésticas e cuidados com crianças e idosos. Portanto, o período em que a mulher tem um filho pode ser decisivo para sua inserção efetiva no mercado e no tipo de emprego que irá trabalhar.
A gestora do Sebrae Delas no RS, Susana Ströher, entende que o resultado do estudo divulgado reforça a importância de políticas de incentivo ao empreendedorismo feminino e aponta caminhos para fortalecer esse segmento:
— Ao fortalecer a presença feminina no mercado, não estamos apenas criando oportunidades para essas empreendedoras, mas também impulsionando a inovação, a geração de empregos e a construção de um ambiente empresarial mais diverso e inclusivo. Empreender, para muitas mulheres, é um caminho para superar desafios estruturais, conquistar espaço e contribuir ativamente para a economia.