Passo Fundo e região não devem passar ilesos pela trepidação global causada pelo segundo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos. A volta do magnata ao governo norte-americano tende a respingar no comércio internacional e nos preços agrícolas — com resultados bons e outros nem tanto para o norte gaúcho.
Mas o que Passo Fundo tem a ver com as medidas de Trump? A resposta está na nossa balança comercial. Em 2024, o município manteve o segundo lugar no ranking das cidades gaúchas que mais exportam — um índice que fala mais sobre a região do que sobre a cidade somente, uma vez que a maioria das negociações acontece aqui, mas boa parte do produto vem do entorno.
O volume de exportações do ano passado ficou em US$ 2,054 bilhões, 15% a menos que em 2023 e o equivalente a R$ 12 bilhões no câmbio atual. Com isso, Passo Fundo ficou em 33º no ranking das cidades brasileiras que mais exportam — em 2023 era 25º.
Das exportações negociadas em Passo Fundo, 78% são de soja e 67,4% vão para a China. Outros países asiáticos são destinos importantes: Irã (6,75%), Vietnã (5,91%) e Filipinas (2,9%), conforme dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Os reflexos das decisões de Trump, nesse caso, teriam a ver menos com o Brasil em si e mais com as relações comerciais com a China. No primeiro mandato do republicano, Pequim foi alvo de uma disputa comercial e financeira e, agora, os EUA devem retomar as políticas protecionistas tanto pró-EUA quanto contra o gigante asiático.
Essa postura abre espaço para a valorização do dólar — o que, no curto prazo, favorece as exportações brasileiras com a entrada de mais dinheiro — ao mesmo tempo em que fortalece o agronegócio norte-americano com subsídios e incentivos, o que acelera a concorrência pelos mercados globais, incluindo a China.
Nesse cenário, Trump não pensará duas vezes antes de passar o Brasil para trás nas disputas comerciais — especialmente se envolver o agronegócio, setor no qual os dois países concorrem. Ele mesmo já classificou o Brasil como um "grande criador de tarifas" ao lado da China e a Índia, e criticou os planos de uma moeda própria do Brics.
— Vamos colocar os Estados Unidos em primeiro lugar — disse ele durante evento na Flórida, na segunda-feira (27), em mensagem clara sobre como serão as medidas nos próximos anos.
Sentar e observar
Agora, a melhor saída é manter a cabeça fria e observar os próximos passos, a começar pelo comportamento da demanda chinesa e os preços internacionais da soja.
— A China pode seguir fortalecendo suas relações comerciais com o Brasil, mas também pressionar por preços mais baixos, buscando diversificar fornecedores. A movimentação do governo brasileiro nesse cenário será essencial para garantir previsibilidade e segurança ao setor — avalia a economista Giana Mores, pesquisadora e professora da Atitus Educação.
A gestão de riscos e inteligência de mercado, segundo ela, serão essenciais neste momento tanto para Passo Fundo quanto para outras regiões exportadoras do país. A competitividade brasileira continua forte, mas o cenário exige monitoramento e adaptação constante.
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