Por Katia Trevizan, engenheira agrônoma
Os produtores enfrentam novos desafios a cada safra, mas a planta daninha do gênero Amaranthus , popularmente conhecida como caruru, é uma velha conhecida no Rio Grande do Sul.
No Brasil, há 20 espécies nativas do gênero, sendo 11 encontradas no RS. Nos últimos anos também há relatos da infestação do A. Palmeri causando grande preocupação ao meio rural por se tratar de uma planta exótica extremamente agressiva.
As plantas desse gênero chamam a atenção por terem um elevado potencial para reduzir a produtividade de soja, milho, algodão ou qualquer outra cultura com a qual coexista. O motivo: têm alta capacidade de adaptação, ciclo de vida curto (cerca de 80 dias), rápida taxa de crescimento e tolerância à seca.
Além disso, as sementes do caruru apresentam longevidade significativa: estudos recentes indicam que podem permanecer viáveis no solo de cinco a 10 anos. Essa característica, combinada com a elevada produção de sementes — pode chegar a 1 milhão por planta —, contribui para a eficácia invasiva do caruru e a complexidade no manejo agrícola.
Caruru é risco crescente à agricultura
A alta adaptabilidade torna a planta resistente a herbicidas inibidores da enzima ALS, usados com mais frequência no controle de plantas daninhas. Em meus estudos, observei que um dos fatores para o aumento acelerado dessa resistência pode ser a hibridação — acasalamento natural entre indivíduos geneticamente diferentes.
Na pesquisa, publicada em tese disponível neste link, identificamos que, embora não tenha havido hibridização entre gêneros diferentes, esse processo ocorreu dentro de uma mesma espécie, especialmente entre biótipos do A. retroflexus — o chamado "caruru gigante", que tem se tornado um desafio cada vez maior aos produtores locais.
Dada a crescente presença e rápida disseminação do caruru gigante, é previsível que no próximo ciclo de verão no sul do Brasil haverá um aumento considerável das áreas afetadas.
Qual deve ser a resposta?
Diante desse cenário, é imperativo adotar estratégias eficazes para reduzir a proliferação e desenvolver métodos de controle. Primeiramente, devem ser implementadas práticas para minimizar a disseminação das sementes.
Para isso, o primeiro passo é o arranquio, ou "rouging", que envolve a remoção das plantas com inflorescências. Além disso, é crucial evitar a propagação por meio da colheita, o que requer uma limpeza minuciosa das colhedoras, especialmente nas propriedades que utilizam equipamentos terceirizados, dado que a colheita é uma das principais formas de dispersão.
Outra abordagem importante é o uso de coberturas vegetais ao longo do ano. Nessa época, muitos produtores não realizam cultivo e, por vezes, abandonam as áreas até a implantação das culturas de verão. Isso é um grande erro, pois o caruru germina a pouca profundidade e necessita de luz para isso. Assim, a implementação de uma cultura de inverno com cobertura significativa de palha antes da semeadura da soja é fundamental.
Para áreas já infestadas e que receberão soja no verão de 2025, é crucial utilizar herbicidas pré-emergentes eficientes, uma vez que há poucas opções de produtos seletivos para controle efetivo em pós-emergência. Manter uma vigilância constante e ajustar as práticas de manejo serão fundamentais para superar os desafios e garantir a proteção das lavouras.
Katia Trevizan é doutora em Produção Vegetal e coordenadora do curso de Agronomia da Faculdade Ideau em Passo Fundo. Entre em contato através do e-mail agronomia.pf@ideau.com.br.