Por Vilmar Wruch Leitzke, engenheiro agrônomo
A cada edição das tradicionais feiras do agronegócio tem se verificado uma crescente participação da agricultura familiar tanto em número de expositores como em recordes de vendas.
Isso é interessante e, mais interessante ainda, são os significados deste movimento para as famílias que se dedicam à nobre missão de levar até o consumidor produtos que carregam uma carga de histórias e resultados que, em sua maioria, não são traduzidos nas embalagens e rótulos desses empreendimentos.
Como primeiro argumento para a escolha desses produtos, além das questões associadas a qualidade, sabor e aparência, ainda estão registrados na memória afetiva dos consumidores, mesmo que inconscientemente, as memórias gastronômicas influenciadas pelas diferentes etnias que trouxeram consigo distintos hábitos alimentares ainda muito presentes no sul do Brasil.
Ou seja, são produtos carregados de cultura e do “saber fazer”, sendo muitas vezes receitas e fórmulas das próprias famílias produtoras que são como uma extensão da mesa de suas próprias casas.
Mas os resultados, nem sempre perceptíveis ao grande público, são muito maiores que o sabor desses produtos. Esses são traduzidos pelo crescente número de empreendimentos gerenciados por mulheres e inserção de jovens que visualizam nesses empreendimentos uma oportunidade de ocupação da mão de obra, agregação de valor ao produto primário e geração de renda localmente.
Aliás, esse é outro tema importante e que precisa ser dimensionado, isto é, o impacto dessa contribuição que vai além do econômico: o desenvolvimento local e abastecimento das cadeias curtas tanto nos pequenos municípios quanto nos grandes centros urbanos.
Resgate de culturas e valorização local
Consolidar estratégias de regularização de agroindústrias e desses empreendimentos da agricultura familiar trazem resultados ocultos e que precisam ser reconhecidos e mensurados: a oferta de produtos de qualidade com o resgate das diferentes culturas do Rio Grande do Sul, a valorização do saber e da arte local e dos antepassados no processamento de alimentos, a inserção das mulheres nos mercados, a possiblidade de retorno dos jovens ao campo como oportunidade e a geração de renda das famílias e por extensão das comunidades que, por efeito de rede, estão inseridos.
Comprar e valorizar produtos dos empreendimentos familiares rurais, portanto, pode e é uma experiência econômica e social muito maior do que o já tradicional sabor que todos conhecemos.
Vilmar Wruch Leitzke é engenheiro agrônomo e extensionista rural do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar Passo Fundo. Entre em contato através do e-mail: vwleitzke@emater.tche.br.