Por César Augusto Trinta Weber, médico psiquiatra e psiquiatra psicoterapeuta, e Antônio Geraldo da Silva, médico psiquiatra e psiquiatra forense
O Programa Farmácia Popular do Brasil, criado há mais de 20 anos, busca ampliar o acesso da população a medicamentos. Em fevereiro de 2025, o programa incorporou 41 novos itens ao elenco de medicamentos gratuitos, incluindo opções para incontinência urinária e doenças cardiovasculares. No entanto, a doença mental continua negligenciada. Psicofármacos seguem fora da lista de medicamentos do programa, evidenciando um estigma estrutural persistente.
A exclusão de medicamentos psiquiátricos impacta milhões de brasileiros com transtornos mentais. Sem acesso a medicação gratuita, muitos pacientes enfrentam agravamento dos sintomas, maior risco de hospitalizações e aumento da vulnerabilidade social.
Dados da OMS indicam que as doenças mentais estão entre as principais causas de incapacidade global. Pacientes psiquiátricos graves vivem, em média, de 10 a 20 anos a menos do que a população geral, devido à falta de tratamento adequado. A negligência à doença mental é um reflexo histórico.
Famílias são obrigadas a arcar com altos custos, reforçando desigualdades
No Brasil, essa marginalização se manifesta na ausência de políticas públicas eficazes para garantir tratamento acessível às pessoas com doenças mentais. Famílias são obrigadas a arcar com altos custos, reforçando desigualdades e limitando o acesso ao tratamento.
A falta de acesso aos psicofármacos compromete a qualidade de vida e perpetua um ciclo de exclusão social e econômica. Pacientes abandonam o tratamento por dificuldades financeiras, resultando em consequências graves para eles e suas famílias. A desigualdade no acesso ao tratamento psiquiátrico sobrecarrega os serviços de emergência e internação, impactando todo o sistema de saúde.
O governo ampliou a oferta de medicamentos, mas deu as costas à doença mental. Os psicofármacos são parte essencial do cuidado integral em psiquiatria. A expansão do programa para incluir psicofármacos ajudaria a reduzir o impacto do estigma e melhoraria a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Ao ignorar a doença mental, o governo falha e a população sofre.