Por Angela Rosi Almeida Chapper, desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região
“A morte é como o umbigo: o quanto nela existe é a sua cicatriz, a lembrança de uma anterior existência” (Mia Couto).
O retorno de pensamentos racistas e homofóbicos representa o esquecimento de um árduo processo de luta por direitos básicos, marcado pelo sacrifício de vidas, exigindo décadas de mobilização social para assegurar garantias conquistadas não só pelos atingidos pela segregação racial ou sexual, mas por todos que acreditam que somos iguais nesse planeta tão maltratado.
Mais do que nunca, é preciso conscientizar as novas gerações de que não pode haver apatia diante da desinformação que deturpa a história e trata direitos humanos como exageros
No entanto, as redes sociais mostram a ascensão de discursos que relativizam e desvalorizam tais conquistas. Falas tendenciosas ao revisionismo histórico, em que se minimiza a opressão e o preconceito com narrativas que flertam com o autoritarismo e com o desrespeito ao regime democrático.
Mais do que nunca, é preciso conscientizar as novas gerações de que não pode haver apatia diante da desinformação que deturpa a história e trata direitos humanos como exageros. Nenhuma conquista é definitiva. Direitos devem ser constantemente reafirmados e protegidos, papel primordial da Justiça Trabalhista.
Ataques ao Poder Judiciário têm como foco fragmentar a população, tão suscetível a certas teatralidades. Por isso, combater quaisquer formas de preconceitos, valorizando as instituições democráticas, é imperativo para que não esqueçamos a lição que julgávamos aprendida em passado recente.
Uma sociedade verdadeiramente democrática e igualitária só será possível quando todos, independentemente de raça, religião ou gênero, puderem viver e trabalhar com dignidade e sem medo.
O avanço de discursos de ódio não se traduz em liberdade de expressão, mas em ameaça real de retrocesso social. Pois a história nos ensina que a democracia e a igualdade são construções contínuas e seu futuro depende da nossa lembrança e resistência, lambendo as cicatrizes duramente conquistadas cada vez que sangrarem, incansavelmente.