Por Lucas Brunetti, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA
As plantas brasileiras de biocombustíveis à base de cereais, derivados de milho e trigo, estão entrando em operação mais cedo do que o previsto, impulsionadas por investimentos, políticas públicas e uma demanda em franca ascensão. Estimamos que a produção de etanol de cereais deverá crescer de 6,3 bilhões de litros na safra 2023/24 para 12,0 bilhões em 2026/27 — um aumento de 91%. Paralelamente, a produção de biodiesel deve subir de 7,7 bilhões de litros em 2023 para 11,2 bilhões em 2026, representando um crescimento médio anual de 14%.
Esses projetos abrem uma oportunidade significativa para que o Brasil se consolide como líder na produção de biocombustíveis, fortalecendo a matriz energética de forma sustentável e impulsionando a economia nacional. A busca por matérias-primas alternativas e renováveis deve elevar a produção de etanol de milho na safra 2025/26 para 9,6 bilhões de litros — um acréscimo de 19% em relação à safra anterior —, enquanto o etanol à base de cana deverá atingir 23,8 bilhões de litros, uma queda de 10% devido à mudança no mix produtivo.
A área de crédito do Itaú BBA identificou 22 projetos de novas unidades ou de ampliação das plantas de etanol de milho, o que somará mais de 6 bilhões de litros em capacidade adicional. Para 2025, estima-se que o setor consumirá cerca de 21,1 milhões de toneladas de milho na produção desses biocombustíveis.
A expectativa é que o uso de trigo e sorgo se intensifique, aumentando a complexidade do mercado
No âmbito ambiental, as emissões de carbono do setor de transporte cresceram, em média, 1,7% ao ano entre 1990 e 2022 — a maior alta registrada no período. Contudo, para que o mundo alcance a neutralidade de carbono até 2050, as emissões desse setor precisam recuar 3% ao ano até 2030. Nesse contexto, políticas como o RenovaBio e a Lei Combustível do Futuro — que prevê a possibilidade da mistura de biodiesel para atingir os 25% após 2031 — tornam-se fundamentais para a transição para um transporte mais limpo.
A próxima fronteira a ser explorada é a produção de biocombustíveis à base de trigo. No Rio Grande do Sul, usinas de etanol de trigo já estão em construção, com capacidade total de 385 milhões de litros anuais, embora apenas 15 milhões de litros estejam previstos para funcionar em 2025. A expectativa é que o uso de trigo e sorgo se intensifique, aumentando a complexidade do mercado.
O agro brasileiro desponta, assim, como peça-chave para a transição energética no setor de transportes e para consolidar o país como um grande player global em energia limpa. Políticas públicas consistentes e investimentos privados serão determinantes para que esse potencial se materialize.