Por Ricardo Bidone, engenheiro civil e conselheiro da Fiergs
Entre os dias 10 e 14 de março, a partir do Planalto Médio gaúcho, foram ouvidos os gemidos de dor do produtor rural brasileiro. Não-Me-Toque, lá os onde os trigais têm cor de ouro, sediou mais uma Expodireto Cotrijal. Desta feita, no entanto, o encontro foi muito diferente: tratava-se da primeira feira após as enchentes, e o cenário político nacional é instável e maltrata o setor do agro.
A vocação para produção rural gaúcha pode ser dividida em duas escalas. Tanto somos o berço de empresas gigantes, listadas na B3, quanto somos o torrão de milhares de pequenos produtores que, somente cooperativados, conseguem manter sua atividade. Esses dois vetores, unidos, têm sido responsáveis por tornar o Brasil, como está em curso, o maior exportador de alimentos do mundo.
SLC, Kepler Weber e 3Tentos possuem grande capacidade de articulação e importantes reservas de lucros. A SLC é a maior proprietária de área cultivada do Brasil. A Kepler atua, principalmente, na construção de silos de armazenagem, cuja capacidade é pífia no Brasil (em torno de 15%), indicando seu potencial de grande crescimento. A 3Tentos é a mais recente delas na B3; seus produtos não chegam na gôndola dos supermercado, porque ela atua, precipuamente, fornecendo insumos ao produtor; é um colosso gaúcho que cresce mais de 20% ao ano há muito tempo.
A vocação para produção rural gaúcha pode ser dividida em duas escalas
O pequeno produtor, que tem perecido e é indefeso, coexiste com as grandes do agro. Para ele os últimos dias têm sido de profunda angústia. Não bastassem as mazelas da enchente, recentemente pareceu ameaçado o Plano Safra. A diligente Farsul trouxe à luz números impressionantes: as perdas de grãos, entre 2020 e 2024, somaram 40,6 milhões de toneladas; essa massa equivale a R$ 106 bilhões deixados de faturar pelo produtor. Todo esse liame gerou uma tensão jamais vista no Brasil. Essa energia represada se manifestou na forma emoção incontida diversas vezes.
O senador Heinze, engenheiro agrônomo e produtor rural, detalhou uma proposta, e já indicou de onde virão os recursos, para uma securitização rural que alcançará sobretudo os mais fracos.