Por Cristina Bonorino, professora de imunologia e pesquisadora 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
O atual governo americano segue cortando todas as verbas de ciência e tecnologia, privilegiando as empresas de seus apoiadores uber-rich da tecnologia. Já no Brasil, na semana passada, o governo lançou um edital de apoio a empresas que "realizam, planejam realizar ou expandir as atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação no país".
Reservou cerca de R$ 3 bilhões para essa chamada, para auxiliar a construção de novas plantas-piloto ou a expansão de empresas que queiram investir em tecnologias estratégicas, dentro das áreas de informação, materiais e biotecnologia. Os recursos vêm do BNDES e da Finep, e os projetos precisam demonstrar atividade concreta em PD&I por no mínimo três anos após o final do projeto — que em si terá três anos.
É inédita e claramente associada à nova política industrial
Esse acompanhamento é importante junto às empresas proponentes para que haja supervisão do uso dos recursos públicos de acordo com as atividades propostas e manutenção do quadro de pessoal do projeto por seis anos para essas atividades. Isso também é relevante, pois a chamada prevê a contratação de um percentual de doutores e mestres mínimo de 20%, incorporando profissionais egressos de cursos de pós-graduação com enfoque tecnológico. Colaboração nos projetos das empresas com universidades e institutos de pesquisa são incentivadas. Parcerias com empresas estrangeiras são possíveis, mas o projeto deve vir de uma empresa brasileira.
É uma iniciativa inédita, claramente associada à nova política industrial formalizada em 2023 pelo grupo de Geraldo Alckmin. E é uma grande iniciativa, visando cumprir o que deveria ser a missão de todos os governos: fomentar a indústria nacional para que seja competitiva e sustentável. Para aqueles empresários com sangue no olho, que sonham em inovar aqui dentro, em fixar os bons recursos humanos, em melhorar a qualidade de vida da população. Fica aqui o desejo de que busquem conhecer o potencial do que já se passa nas universidades; e de que estas busquem essa nova geração de empresários e sugiram a eles como podem ajudar a transformar seus negócios em inovação. E de que essa seja a primeira de outras iniciativas nesse sentido, pois o cenário que se desenha lá fora apenas se traveste de novidade — mas traz na verdade os ventos de um terrível passado. Que isso não seja o nosso futuro.