Por Marcelo Matias, Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers)
A fiscalização dos serviços públicos é essencial. Parlamentares eleitos têm o dever de acompanhar, cobrar e propor melhorias. É assim que se constrói uma sociedade mais justa, com melhores condições para todos. No entanto, há uma diferença crucial entre fiscalizar com responsabilidade e transformar a saúde em palco para o oportunismo político.
O Rio Grande do Sul já viu esse tipo de cena antes. Em Novo Hamburgo, um vereador invadiu um posto de saúde, filmando pacientes em situação de vulnerabilidade e expondo profissionais da saúde sem qualquer critério. A justificativa? Fiscalização. Mas fiscalização não pode ser feita à custa da dignidade alheia. O que deveria ser um espaço de cuidado e privacidade virou palco para uma performance política que em nada contribuiu para a solução dos problemas da saúde pública.
Agora, em Felício dos Santos (MG), um vereador invadiu uma sala vermelha, o espaço de atendimento emergencial para pacientes em estado crítico. A prefeitura afirma que a entrada abrupta interrompeu um procedimento médico essencial, resultando na morte do paciente. Além disso, servidores da unidade denunciaram agressões verbais e até físicas. O parlamentar, em sua defesa, alegou que apenas queria verificar o atendimento. Mas qual o preço dessa "fiscalização"? Uma vida.
Um espaço de cuidado e privacidade virou palco para uma performance política
Médicos e demais profissionais da saúde atuam sob intensa pressão. Em um ambiente onde cada segundo pode ser a diferença entre a vida e a morte, qualquer interferência irresponsável pode ter consequências irreversíveis. Saúde pública precisa de gestão séria, não de cenas ensaiadas para redes sociais. O Simers reitera seu respeito à boa política _ aquela que constrói, que propõe soluções, que cobra com responsabilidade. Mas também reitera sua total condenação à demagogia que compromete a integridade do atendimento médico.
Os médicos e demais profissionais da saúde não precisam de plateia. Precisam de respeito, estrutura e condições adequadas para cumprir com um juramento sagrado: salvar vidas.