Por Paola Coser Magnani, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
O ser humano tem uma tendência a buscar o caminho mais fácil. Se pudéssemos eliminar toda e qualquer atividade que nos gera dúvida, medo, angústia ou esforço, faríamos. Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia e autor do livro Rápido e Devagar, explica que existem dois sistemas na mente de cada indivíduo: 1 e 2. O Sistema 1 opera automática e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e percepção de controle voluntário. O Sistema 2 aloca atenção às atividades mentais complexas que o requisitam, relacionadas subjetivamente à escolha e à concentração, encarregado também do autocontrole.
Enquanto o Sistema 1 opera rapidamente, o Sistema 2 tem como uma de suas principais características a preguiça. O Sistema 2 é o único capaz de seguir regras, fazer escolhas e comparar objetos com diversos atributos. O Sistema 1 detecta relações simples, entretanto, é incapaz de lidar com tópicos distintos e múltiplos. A impressão de familiaridade é produzida pelo Sistema 1, e o Sistema 2 se apoia nessa impressão para julgamento de verdadeiro ou falso.
A falácia do Estado- babá, que cuidará de todos, está cada dia mais visível
O cenário político e econômico atual nos remete rapidamente a lembranças não tão distantes: controles de gastos públicos inexistentes, juros altos, desconfiança política e manobras populistas para alimentar o ego dos governantes. O nosso Sistema 1 está nos mandando sinais bem claros do que está acontecendo. E parece que o Sistema 2 da população brasileira está começando a deixar a preguiça de lado, afinal, todos sentem no bolso a pressão inflacionária.
Os reflexos da concatenação feita pelo Sistema 2 já começam a aparecer na queda de popularidade do presidente Lula. Assim, pode ser que as pessoas enfim estejam se dando conta de que a simplicidade do Sistema 1 já não explica o cenário atual.
Estamos sendo demandados para que as reflexões superficiais sejam postas de lado e passemos a visualizar com mais clareza o caminho em frente. A falácia do Estado-babá, que cuidará de todos, está cada dia mais visível, porque a conta está chegando. E ela é alta.