Por Ely José Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Indivíduos tendem a tomar decisões econômicas racionais em busca do benefício próprio; e isso não seria ruim, uma vez que na presença de um mercado que organiza as ofertas e demandas, este comportamento individual faz com que todos fiquem melhor. Porém, este racional tem limitações. Diversas ações individuais de busca pelo melhor impactam negativamente outras pessoas, fazendo com que o ótimo global fique mais distante. Um exemplo é a pressão ambiental.
As mudanças climáticas são fruto da atividade (econômica) humana. São determinados agentes econômicos que, buscando o melhor para si, acabam prejudicando outros pela pressão ambiental gerada. Às vezes, os mercados conseguem corrigir isso. Às vezes, não. A alta desigualdade de riqueza e poder faz com que estas correções sejam difíceis, pois os resultados negativos da mudança climática costumam atingir mais fortemente os mais pobres.
No afã de buscar contribuir com a questão ambiental, passamos a estimular o comportamento individual para ser o indutor de mudanças. Por exemplo, usar sacolas reutilizáveis em vez das sacolas plásticas no comércio. Dois elementos enfraquecem esse movimento, porém. Primeiro, são ações por parte da sociedade que detém menos poder e impacto sobre o mercado, que é o consumidor mediano. Segundo, a ação individual pode ter impacto negativo sobre a ação coletiva, que costuma acumular maior poder de impacto.
Enfrentar mudança climática é um movimento que precisa ser coletivo
Um experimento da Universidade de Yale mostrou que as ações individuais têm pouco efeito para motivar ações coletivas. Em determinados casos, podem inclusive desestimular o movimento coletivo, pois geram a sensação de que já se está fazendo algo, inibindo engajamento sistemático. Assim, os autores sugerem que estimular diretamente o movimento coletivo é mais eficaz.
Meu ponto, assim, é que enfrentar mudança climática é um movimento que precisa ser coletivo. É perigoso enxergar a ação individual como ferramenta efetiva de solução do problema, ainda que não seja dispensável. É mandatório pensar e agir coletivamente como sociedade.