Por Lúcia L.R. Rosa, coordenadora do PPG em Memória Social e Bens Culturais da Unilasalle
Mais que uma narrativa sobre o país nos anos 1970, o já premiadíssimo longa brasileiro Ainda Estou Aqui constitui-se em marcas de memória social do Brasil e da América Latina. Tanto o filme quanto o livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva refazem o passado para ser analisado no presente. Na perspectiva dos estudos de memória social, poderíamos olhar para esse passado que se faz presente, principalmente para a família de Rubens Paiva, sob diversos enfoques à luz de teorias que impulsionam tais estudos.
Que a arte seja premiada com especial destaque para o reconhecimento de seu potencial criador e mobilizador
No entanto, aqui irei dar mais atenção no tocante à ausência do ex-deputado Rubens Paiva e sua repercussão. Afinal, quantas vezes já ouvimos e lemos a frase "lembrar para não esquecer"? Essa ideia nos remete a várias situações para as quais o filme e o livro nos conduzem, como: Eunice não deixar o marido ser esquecido; a arte traz a reflexão sobre a história brasileira; o filme impulsiona mais leitores para o livro e traz a volta do público ao cinema; o sucesso do filme e da atriz Fernanda Torres ocorre não somente por este filme, mas também por retomar o sucesso da mãe, a igualmente consagrada atriz Fernanda Montenegro _ atuante como Eunice na parte final do filme.
Dessa forma, há muitas memórias envolvidas: aquele prêmio de Melhor Atriz de 1999, que não chegou a quem o povo brasileiro torcia para recebê-lo na época, ressurge para a filha, coincidentemente, mais uma vez sob a direção de Walter Salles. Quanto ao livro, trata-se de retomar a obra embrionária no Feliz Ano Velho, de 1982 do mesmo autor.
Diante dessa tela que nos imerge no Brasil do passado cada vez mais presente, ao mesmo tempo em que enaltece o poder de rememorar pela literatura, destaco a importância de ler e reler nossa história. Que nossa memória seja sempre uma volta ao passado para revitalizar o presente e prospectar o futuro. O que somos tem base naquilo que fomos e nos lança a um futuro renovado e renovador. Que a arte seja premiada com especial destaque para o reconhecimento de seu potencial criador e mobilizador. Assim todo o país ganha em cidadania e em reconhecimento de seu talento.