Por Gabriel Wainer, apresentador do @RivoNews
A polarização atingiu patamares tão perniciosos no Brasil, que tornou o debate público na ágora moderna tão profundo quanto um pires. A pressa em rotular qualquer um que manifeste qualquer opinião com as classificações mais peçonhentas e anacrônicas possíveis, como “fascista!”, “comunista!”, “genocida!”, “golpista” e etc., levou a um emburrecimento generalizado de parte da população ativa nas caixas de comentários. E como todo mundo, o tempo todo, deve ser classificado por qualquer divergência de pensamento como um nêmesis de todo o progresso, não há espaço para quem seja moderado. Tanto que aqui se convencionou chamar quem não é fã de político de “isentão”. Pejorativamente, é claro.
Na semana passada, diante de um dos maiores absurdos jurídicos e diplomáticos dos últimos anos – a decisão xenófoba da Justiça Federal de mandar a Polícia Federal abrir inquérito contra um turista israelense que passava férias na Bahia –, muitos correram para acusar o governo federal pela atuação da juíza que fez o despacho absolutamente equivocado. É preciso, no entanto, preservar as responsabilidades de cada um. O Planalto abriga, sim e sem pudor, uma caterva de antissemitas. Mas a magistrada que tomou a decisão não foi colocada no cargo pelo governo. Ela é concursada, está no cargo desde 2003. E apontar isso, para algumas pessoas, é defender o governo, o que é um delírio.
Como todo mundo, o tempo todo, deve ser classificado por qualquer divergência de pensamento como um nêmesis de todo o progresso, não há espaço para quem seja moderado
Outro dia, a presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre — o parlamento da cidade, onde se discute o futuro e o presente do município — disse a Zero Hora que “se me virem abraçada no PT é porque é briga”. Não sou nenhum simpatizante do partido, mas junto ao PSOL, o PT é a maior legenda da Casa. Somados, eles representam 10 dos 35 vereadores da Câmara. É possível mediar as discussões sobre o futuro de Porto Alegre sem crer no diálogo, inclusive e principalmente com o adversário?
Não há a menor chance de prosperarmos enquanto este for o nível do debate público. Enquanto não for possível separar o lugar de cada coisa sem ser tachado de coisa alguma, seguiremos valsando na beira do abismo.