Por Aline Lima de Souza, médica veterinária e diretora da Associação dos Fiscais Agropecuários do RS (Afagro)
O recente foco de febre aftosa confirmado em rebanho de búfalos na Alemanha deflagra para o mundo um panorama alarmante: apesar dos esforços rigorosos adotados pela defesa sanitária deste país, a reintrodução do vírus quase 40 anos depois é possível e assustadora. Sobretudo ao traçarmos um paralelo com os últimos casos da doença no Rio Grande do Sul, entre 2000 e 2001, no entorno de Joia. Na época, a reintrodução da aftosa no Estado resultou em um verdadeiro cenário de guerra, demandando técnicos, máquinas e um arsenal digno de filmes de ficção para conter o vírus altamente contagioso e que rapidamente se alastrou entre os rebanhos da região.
A situação no país europeu é um alerta que nos faz reafirmar aquilo que não queremos reviver
As consequências sanitárias e os prejuízos econômicos entraram para a história do Rio Grande do Sul e do país, ficando marcados na lembrança dos que vivenciaram a situação, que afetou drasticamente os produtores por suas perdas e comoveu a população local. O evento acionou o trabalho de fiscais estaduais agropecuários e técnicos agrícolas da Secretaria de Agricultura do RS para a linha de frente do saneamento do foco.
O caso da Alemanha é um alerta que nos faz reafirmar aquilo que não queremos reviver. Mas o que explica a reintrodução de um vírus de tal magnitude? Muitos são os fatores em potencial que nos fazem repensar, enquanto profissionais da defesa sanitária, em redobrar ações de vigilância ativa num momento como este. Afinal, mesmo sendo exemplo de rigor nos processos produtivos e possuindo uma extensão territorial inferior à do nosso país, a Europa se deparou com esta surpresa.
Diante do imprevisível e a fim de se manter o status sanitário atual do Brasil em relação à aftosa, cabe aos governos investirem recursos nos serviços de defesa agropecuária para fortalecer e intensificar ações que mitiguem os riscos do ingresso do vírus. Também se faz necessário valorizar o corpo técnico por meio de qualificações contínuas para o rápido e efetivo atendimento de casos suspeitos de aftosa e outras doenças que afetam rebanhos e lavouras.