Por Rodrigo Ourives, gerente técnico de Desenvolvimento e Soluções Educacionais do Sistema Fiergs
Não há cerne da proibição do uso de celulares na educação básica, há uma tensão entre o que se proíbe e o que se preserva. Essa medida, revestida de autoridade legal, parece relembrar-nos que a pedagogia, desde os primórdios, encontra-se ancorada em um paradoxo: educar é, ao mesmo tempo, limitado e libertador. No entanto, qual a real natureza dessa limitação?
Se o celular simboliza a extensão da mente contemporânea, uma prótese do saber instantâneo e da distração contínua, bani-lo não seria, também, banir um reflexo da própria cultura em que vivemos? Há algo profundamente educativo em tal exclusão: ela nos convida a refletir sobre o que valorizamos enquanto espaço de aprendizagem. O silêncio da sala de aula sem as notificações digitais abre-se como um território onde o tempo pode ser, novamente, escutado. A lição implícita é clara: há coisas que só podem ser aprendidas na esperança, na ausência da mediação tecnológica.
Talvez o verdadeiro desafio não seja administrar o que se proíbe, mas perguntar o que se deseja ensinar com essa proibição
O filósofo Walter Benjamin nos alertou que cada geração é responsável por um tipo de “redenção” em sua pedagogia. Talvez, essa lei seja menos uma negação ao avanço tecnológico e mais um apelo à redescoberta do ritmo humano na educação — um ritmo que favorece a contemplação, o esforço e o diálogo sem atalhos. Quando proibimos algo, ao invés de meramente reprimi-lo, oferecemos espaço para que sua ausência fale. Assim, ao sancionar o não uso de celulares, sancionamos, em igual medida, a oportunidade de um reencontro com o tempo longo da aprendizagem, aquele que nunca foi pautado por notificações, mas pelo amadurecimento.
Aos educadores, cabe a delicada tarefa de ouvir o eco desse gesto. Talvez o verdadeiro desafio não seja administrar o que se proíbe, mas perguntar o que se deseja ensinar com essa proibição. O tempo, grande mestre, nos mostrará que cada movimento de privação é, também, uma tentativa de lembrar o essencial: educar é formar o humano em sua capacidade de estar presente, de sustentar o pensamento e de dialogar com o outro — mesmo quando o outro é, primeiramente, o seu próprio silêncio.