Por Antônio Brocker Junqueira, publicitário e diretor de Criação da A27
A icônica música Vamos fugir, do Gilberto Gil com Liminha e eternizada pelo recém-terminado Skank, nunca fez tanto sentido quanto agora. Mais do que o destino ou a companhia, só queremos escapar.
Esse sentimento é cada vez mais evidente, e os mercados buscam dialogar com uma sociedade em fuga. Prova disso são as cores para 2025: Mocha Mousse (Pantone), Future Dusk (Coloro/WGSN) e as combinações da Suvinil (Despertar, Marrom-Luxo e Sossego Noturno). Diferentes em tonalidades, todas visam transmitir segurança, conforto e sossego em um cotidiano saturado de informações.
Além das cores, manifestações como nostalgia e temáticas retrô reforçam essa busca por fuga. Elas evocam um passado de conexões mais profundas e menos estímulos. Até o retorno de eventos presenciais reflete um escapismo — neste caso, das redes sociais e da vida digital que nos exaure.
O mercado de relógios complexos renasce, simbolizando o desejo por desacelerar. Uma marca captou isso ao anunciar: “Saiba as horas sem saber que existem 1.249 e-mails não respondidos”. Revistas físicas também retornaram, com pelo menos 70 novos títulos lançados nos EUA, enquanto os discos de vinil seguem em alta, reafirmando o desejo por conteúdos físicos e experiências analógicas.
O escapismo é mais do que uma tendência: é a consequência de uma mente desgastada
Não à toa, o Dicionário Oxford escolheu "brain rot" como a palavra do ano, traduzida como "cérebro podre". Criada em 1854 por Thoreau, ela descreve a deterioração mental causada pelo excesso de conteúdos superficiais, agora especialmente nas redes sociais. Essa sensação alimenta o desejo de escapismo, uma resposta natural à sobrecarga de estímulos e superficialidade.
Estamos cansados e buscamos conforto, tranquilidade e segurança em “momentos nossos”. O escapismo é mais do que uma tendência: é a consequência de uma mente desgastada. Marcas que não dialogarem com essa necessidade correm o risco de serem deixadas para trás.