Por Rosecler Alves Pereira, doutora em Ciências Veterinárias e professora da Estácio Porto Alegre
No Dia Internacional da Medicina Veterinária, é essencial refletir sobre o papel fundamental que nós, médicos veterinários, desempenhamos, especialmente em crises como as recentes catástrofes que devastaram o Rio Grande do Sul. A tragédia no Estado deixou rastros de destruição e perdas humanas, mas também trouxe sofrimento a inúmeros animais que, muitas vezes, foram esquecidos em meio ao caos e à lama.
A cada animal resgatado, havia a esperança de salvar uma vida e restaurar o vínculo afetivo de famílias que perderam quase tudo
Nos difíceis dias enfrentados pelos gaúchos, veterinários de diversas áreas se mobilizaram com coragem inabalável, deixando suas rotinas e até mesmo suas próprias dores — pois muitos também foram afetados pelas cheias — para prestar assistência emergencial a animais feridos e traumatizados. Esse trabalho foi além da assistência técnica; envolveu um compromisso emocional que transcende a profissão, revelando o lado mais humano da nossa atuação.
A cada animal resgatado, havia a esperança de salvar uma vida e restaurar o vínculo afetivo de famílias que perderam quase tudo. Para muitos, os animais são membros insubstituíveis, oferecendo conforto e apoio emocional. O olhar de gratidão dos tutores que reencontraram seus companheiros, bem como de novos tutores que acolheram um amigo, mostrou que nossa missão vai além da medicina veterinária: é um trabalho de reconstrução de vínculos, alívio do sofrimento e restauração da esperança. Essa esperança foi simbolizada pelo cavalo Caramelo, resgatado e transformado em um ícone de resiliência para o nosso Estado.
A partir dessa experiência, torna-se evidente que a assistência a animais em desastres deve fazer parte dos planos de resposta humanitária. É necessário que governos e organizações de proteção animal unam forças para estruturar protocolos de emergência que incluam médicos veterinários desde o início das operações. O aprendizado trazido pelas enchentes é claro: a solidariedade não deve ser seletiva, e o cuidado com os animais em momentos de crise precisa ser uma prioridade.
Neste dia, celebramos aquilo que fazemos diariamente: cuidar, proteger e ser a voz daqueles que não podem pedir ajuda.