São desapontadores os dados sobre os índices de crianças vacinadas contra a gripe. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, até o último dia 30, véspera da data que seria encerrada a campanha de imunização deste ano, apenas 25,3% do público entre seis meses e seis anos havia recebido a sua dose no Rio Grande do Sul. A mobilização foi prorrogada até o fim dos estoques, dando nova oportunidade para que pais e responsáveis levem as crianças para serem protegidas contra o vírus da influenza e suas complicações. Entre todos os grupos prioritários, a cobertura estava em 44,6%, muito distante da meta de 90%.
Baixa cobertura vacinal contra a gripe contribui para o aumento da procura pelas emergências pediátricas
Mas salta aos olhos e preocupa o caso das crianças. Reportagem publicada na sexta-feira em Zero Hora mostrou que as emergências pediátricas da Capital, públicas e privadas, vivem dias de superlotação devido ao grande número de meninos e meninas com idade abaixo de cinco anos que chegam com quadros respiratórios graves, muitos necessitando internação. A cobertura vacinal entre as crianças em Porto Alegre, mostrou o texto, citando dados do Ministério da Saúde, estava em um patamar muito baixo: 22,6%. Em Caxias do Sul, o jornal Pioneiro também tratou do tema na semana passada e registrou nível parecido, de somente 25,2%.
Em relação à situação na Capital, gestores públicos e de instituições hospitalares ouvidos pela reportagem apontam a baixa cobertura como um dos principais fatores que têm contribuído para o aumento da procura pelas emergências. E o inverno sequer chegou ainda. São elencadas mais razões, como o fechamento de outras duas unidades na cidade que atendiam crianças e a maior exposição a contágios após o período crítico da pandemia de covid-19, quando existiam cuidados redobrados. Há ainda a circulação do vírus sincicial respiratório (VSR), o que concorre para o aumento da busca por atendimento.
Mas, até por isso, deveria haver uma maior preocupação em prevenir adoecimentos e complicações pela gripe. A melhor alternativa é a imunização. A estratégia contra a influenza foi incluída no Programa Nacional de Imunizações (PNI) há 25 anos. A vacina é comprovadamente segura e eficaz. Intriga que exista essa grande hesitação de pais e responsáveis. Seria uma lástima se, como se supõe, parte desse comportamento tivesse como causa a onda de desinformação que recentemente atingiu os fármacos contra a covid-19, semeando insegurança na população também em relação aos produtos voltados a diminuir casos, internações, complicações e óbitos por gripe. Mas parece existir também falta de informação adequada. Em Caxias do Sul, uma infectologista pediátrica ouvida pela reportagem relatou que há pais que imaginam ser suficiente vacinar uma vez. Ou seja, não sabem que é uma necessidade anual.
Devido às baixas coberturas, Estado e municípios gaúchos prorrogaram a campanha de vacinação. Em Porto Alegre, por exemplo, está ainda em curso o chamado Rolê da Vacina, ação itinerante que leva a aplicação às escolas municipais. A programação segue nesta semana, ofertando a crianças e adolescentes uma barreira contra a gripe e a covid-19. Ainda há vários meses de frio pela frente e ser previdente é sempre melhor do que ter maiores chances de precisar correr para uma emergência com um filho pequeno. É ainda um gesto de carinho e proteção. E também de consciência coletiva, por contribuir para desafogar as unidades de atendimento, que poderão dar suporte mais rápido a quem precisa.