Embretado pelas dificuldades para formar uma base confiável no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece próximo de promover uma mudança no Ministério do Turismo. A titular da pasta, Daniela Carneiro, deve ser dispensada para acomodar no posto o deputado federal Celso Sabino, do União Brasil do Pará. Também deputada federal, a fluminense Daniela está trocando o União pelo Republicanos. Em comum, ambos têm ainda o fato de não terem qualquer ligação com o setor, um segmento que tem grande potencial de crescimento no país, com geração de negócios, emprego e renda.
Sabidamente insaciável, o centrão começa agora a pressionar mais para tomar o controle da pasta da Saúde
Números divulgados pela própria pasta indicam que o turismo deve responder por quase 8% do PIB nacional neste ano. Mas existe espaço para mais. Afinal, a despeito dos inúmeros atrativos naturais e históricos, ainda é pequena a quantidade de visitantes internacionais no país na comparação com outras nações. Enquanto o Brasil recebeu 3,6 milhões de visitantes estrangeiros no ano passado, Portugal, por exemplo, registrou 15,3 milhões.
Não se tem notícia de qualquer discussão programática sobre desenvolvimento do turismo nas tratativas acerca da mudança no ministério. Tudo gira em torno da ocupação de espaços políticos, cargos e emendas em troca de votos no parlamento. Deve ser registrado ainda que Sabino, favorito para o cargo, foi apoiador entusiasmado do ex-presidente Jair Bolsonaro e lideranças do partido admitem que, mesmo recebendo o ministério, não asseguram o apoio integral da sigla para o governo. A gestão Lula, portanto, parece que vai continuar refém do fisiologismo, enquanto um setor que hoje responde por 7,9 milhões de empregos diretos e indiretos no Brasil não recebe a atenção devida pela relevância que tem.
Sabidamente insaciável, o centrão, sob a regência do presidente da Câmara, Arthur Lira, começa agora a pressionar mais para tomar o controle do Ministério da Saúde. Novamente, inexistem discussões sobre políticas para aperfeiçoar o atendimento à população. A área da saúde, no pós-pandemia, está desafiada a melhorar indicadores em uma série de frentes, como os índices de vacinação contra as mais variadas doenças e a aceleração de cirurgias e procedimentos eletivos atrasados devido à emergência sanitária recente. A pasta hoje é comandada por Nísia Trindade, sem filiação partidária e com um trabalho reconhecido à frente da Fiocruz, especialmente no período da crise da covid-19. Olhando-se o interesse público, o ideal seria manter uma administração técnica.
O desejo do centrão, por óbvio, é a possibilidade de gerir um dos maiores orçamentos da Esplanada, de cerca de R$ 150 bilhões para 2023. O ministério é ainda o escoadouro de um volume considerável de emendas. O presidente Lula, portanto, está diante de um dilema. A divisão do poder é natural em busca da governabilidade. Os limites republicanos, no entanto, têm de ser respeitados. No caso em discussão, é preciso considerar ainda que, mesmo cedendo, é considerável o risco de o Planalto permanecer sob constante assédio da cobiça do centrão, em busca de mais nacos da gestão federal. É o reflexo do novo momento na correlação de forças em Brasília, com um Congresso mais empoderado em relação ao Executivo. A situação é agravada pelo fato de a base do governo na Câmara não ser maior do que 150 deputados e pela existência de um bloco substancial de parlamentares de uma linha oposta à do Planalto e só disposta a arrendar apoio por preços cada vez maiores.