Deve ser saudado o resultado de 2022 do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que capta a evolução do mercado de trabalho formal no Brasil. O país encerrou o ano com um saldo positivo de dois milhões de vagas, e o Rio Grande do Sul, com a criação de 100 mil postos com carteira assinada. Após o primeiro ano da pandemia, quando a paralisação de atividades especialmente no setor de serviços levou a um grande número de demissões, é significativo que, mesmo diante de sobressaltos políticos e institucionais constantes e de um contexto internacional desafiador, possam ser celebrados dois exercícios consecutivos de aumento de contratações.
O desempenho do mercado de trabalho novamente estará vinculado ao ritmo da economia brasileira
Mas é dever, agora, olhar para frente e analisar o cenário posto para que o país e o Estado continuem registrando melhora na ocupação formal. No Rio Grande do Sul, volta a causar preocupação a estiagem, que outra vez deve levar a uma quebra considerável na produtividade das lavouras, afetando o dinamismo do agronegócio e demais cadeias interligadas à atividade do campo. A despeito das dificuldades, no entanto, a agropecuária gaúcha conseguiu encerrar o ano com mais admissões do que demissões.
O desempenho do mercado de trabalho, portanto, novamente estará vinculado ao ritmo da economia brasileira. Por outro lado, há setores com um grande número de vagas abertas, mas com dificuldades de preenchê-las pela falta de capital humano capacitado. Um exemplo é o de TI. Ainda no ano passado, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) estimava que o segmento abriria no país quase 800 mil vagas de trabalho até 2025, mas previa problemas para encontrar pessoal preparado para dois terços das funções oferecidas. No Estado, a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-RS) citava 5 mil postos à espera de profissionais aptos. Atrair jovens para programas de treinamento e de qualificação vem sendo uma prioridade de empresas e institutos ligados à tecnologia e à inovação e é uma frente que também merece atenção e estímulos do poder público.
Em relação ao ambiente econômico como um todo, é importante, como vêm prometendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, garantia de previsibilidade para que as empresas possam ter a confiança necessária para investir e ampliar os seus negócios, demandando mais mão de obra. Para passar segurança a empresários, investidores e consumidores, é crucial ter compromissos firmes com sustentabilidades das contas públicas, o que não significa despreocupação com o social. Assim, aguarda-se que a proposta do novo arcabouço fiscal do país seja conhecida o mais rápido possível. O setor produtivo anseia ainda pela aprovação da reforma tributária. É preciso, ao mesmo tempo, ter extremo cuidado com intervencionismos que podem gerar um resultado contrário ao esperado no mercado de trabalho.
Apesar do maior número de brasileiros empregados, o Caged mostrou que, no país, o salário real de admissão ao longo do ano (de janeiro a dezembro) foi de R$ 1.944,17, uma retração de 4,47% ante 2021. Em termos de renda, nota-se, o quadro ainda é preocupante. Ainda mais em dias de inflação pressionada e inadimplência elevada. Acenar com responsabilidade fiscal, além de gerar mais confiança nos agentes da economia, contribui para segurar preços e faz o Banco Central ficar mais confortável para iniciar o ciclo de redução do juro, o que ajuda a atividade no médio prazo. A mais recente edição do Boletim Focus, que capta a mediana das expectativas do mercado, indica que o PIB do país deve crescer apenas 0,8% em 2023, depois de um avanço próximo de 3% no ano passado. Com movimentos e medidas guiadas pela sensatez, é possível chegar a dezembro com números melhores, inclusive no emprego.