A partir da decisão política do governo federal de reverter o processo de liquidação da Ceitec, o mínimo a se esperar é a elaboração de um plano de negócios consistente, de acordo com o que estatal pode de fato entregar. Quando foi criada, em 2000, ainda como entidade civil, foi anunciada e celebrada como a iniciativa capaz de tirar o país do atraso na área de semicondutores. Com a federalização, em 2008, renovaram-se os planos grandiosos, inclusive com a promessa de fabricação de chips em sua sede, em Porto Alegre.
Dos pontos de vista financeiro e de negócios, não há como contestar a decepção com a estatal do chip, como ficou conhecida
Passaram-se os anos e a realidade se impôs. Mostrou-se impossível para a estatal fazer os investimentos no volume e na agilidade necessários para que fosse minimamente competitiva e conseguisse se sustentar com as próprias receitas. Até 2017, foram mais de R$ 1 bilhão de recursos públicos direcionados à empresa, que mesmo assim continuava com um faturamento muito abaixo de seus custos. Inúmeras estratégias para uma guinada foram apresentadas, todas sem sucesso, até que o governo Jair Bolsonaro incluiu a empresa no Plano Nacional de Desestatização e, depois, decidiu liquidar a companhia. O processo foi paralisado em 2021 pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que alegou o caráter estratégico da Ceitec para o país.
Dos pontos de vista financeiro e de negócios, não há como contestar a decepção com a estatal do chip, como ficou conhecida. À empresa, por outro lado, somaram-se profissionais que ao longo do tempo adquiriram mais competência e conhecimento, formando um capital humano respeitável. Inúmeras aplicações foram desenvolvidas, para área de passaportes, rastreabilidade bovina, pedágios, saúde e tantos outros, embora sem que fosse possível assegurar a viabilidade comercial.
Foi, agora, publicado decreto do governo federal para reverter a liquidação e criar um grupo interministerial que, em 120 dias, prazo passível de prorrogação, deve apresentar levantamento sobre a situação da empresa e os possíveis caminhos. Há necessidade, por exemplo, de repor equipes. Muitos quadros foram atraídos para outras oportunidades devido à falta de horizonte da Ceitec.
Nada vai adiantar se, outra vez, forem traçados planos megalomaníacos. Deve-se aprender com a experiência e se adequar à realidade. Pode ser viável, por exemplo, focar a formação de profissionais no ramo da microeletrônica, suprindo a carência de cérebros que possam fazer o país subir alguns degraus no domínio da tecnologia, criando inclusive um ambiente propício para o surgimento de novos negócios.
Seria crível, da mesma forma, apostar no desenvolvimento e no design de chips, que, entretanto, deveriam ser fabricados em maior escala em outros locais, provavelmente no Exterior. São formas possíveis de a Ceitec modificar o ceticismo que a cerca, ter custos menores, gerar mais receitas com propriedade intelectual e, assim, assegurar retorno à sociedade que justifique a sua manutenção. Mas o desejável é que persiga ser autossustentável.