A chegada da pandemia elevou o reconhecimento da importância da ciência entre os brasileiros e, ao mesmo tempo, desnudou os problemas de financiamento público à pesquisa. O novo governo federal demonstra interesse em começar a reverter esse quadro ao anunciar reajustes que variam de 25% a 200% nas bolsas de graduação, pós-graduação, de iniciação científica e na bolsa permanência, a partir de março.
É preciso não apenas formar mais mestres e doutores, mas aferir a qualidade da produção científica
É uma sinalização positiva, sem dúvida, mas é imperioso lembrar que os valores estavam congelados havia uma década e, na maior parte dos casos, a inflação do período é muito superior ao reajuste. Apenas para ilustrar, no mestrado a bolsa passa de R$ 1,5 mil para R$ 2,1 mil por mês e, no doutorado, de R$ 2,2 mil para R$ 3,1 mil, ambas com majoração de 40%. O IPCA, nesse intervalo, variou mais de 70%.
Mesmo insuficiente, é uma medida que vai no sentido correto de reincentivar carreiras ligadas à produção científica, que requerem longa dedicação e persistência. O subfinanciamento que vinha vigorando, inclusive com atraso em pagamentos já minguados, se convertia em desestímulo a uma jornada profissional vinculada à ciência no país. Para muitos que teimavam em perseverar no caminho da produção científica, a única saída possível era o Exterior. A fuga de cérebros é trágica para qualquer nação que pretenda ser protagonista na era do conhecimento, e não apenas ir a reboque e ser mera consumidora das descobertas realizadas em outros cantos do mundo.
Em um mundo ideal, os valores continuariam a ser reajustados nos próximos anos, estancando o êxodo de pesquisadores e levando o país a galgar novas posições na corrida pelo desenvolvimento baseado no saber, garantindo remuneração minimamente digna aos bolsistas. Existem, afinal, restrições significativas para que tenham outra fonte de renda. Mas há outros aspectos a considerar. É preciso não apenas formar mais mestres e doutores, mas aferir o impacto e a qualidade da produção, seja em citações ou na viabilidade da aplicação prática, para, ao fim, elevar a qualidade de vida da população, com o emprego do conhecimento e da inovação gerados nas mais diversas áreas das ciências sociais e da natureza.
É notório que o país sofre com restrições orçamentárias. Isso reforça a necessidade de maiores garantias de que a aplicação dos recursos também terá a eficiência como item observado. E, para continuar a dispor dos recursos públicos necessários, é indispensável ter responsabilidade com as contas públicas. Foi o próprio descontrole das finanças, lá atrás, que levou ao início do arrocho das verbas destinadas às bolsas. Mesmo sendo estratégica, a ciência é uma área que, na hora do aperto, é sempre uma das primeiras a sofrer cortes. O aumento do investimento em pesquisa, deve-se lembrar, não é o ponto de chegada, mas sim o de partida para o conhecimento se materializar como uma alavanca do desenvolvimento econômico e do bem-estar social.