Como tenho o privilégio da idade e da experiência, vivi o tempo em que era a esquerda a vociferar contra as pesquisas eleitorais, clamando por sua proibição, punição a institutos e boicotes a veículos de comunicação que divulgavam números adversos. Nada como uma década atrás da outra para constatar que, hoje, a direita assume o mesmo discurso da esquerda de então.
No Conselho Editorial da RBS, pesquisas são temas recorrentes, mas não para endossá-las cegamente. Elas produziram uma leva enorme de erros no primeiro turno, e o conselho entende que, como qualquer serviço privado, os institutos e empresas que as produzem devem ser fortemente cobrados por suas ineficiências.
Mas daí a estabelecer novas restrições e criar punições vai uma distância impensável numa democracia. Transita da ingenuidade à má-fé, por exemplo, o projeto de punir institutos e até ameaçar com prisão os responsáveis que “errarem os resultados”. Grossa asneira de quem imagina que votos não migram em massa até mesmo no dia da eleição. E a proibição das pesquisas criaria uma rede subterrânea, destinada a favorecer partidos e grandes investidores, que, de posse desses dados sigilosos, definiriam suas estratégias privadas, tanto no campo eleitoral quanto no mercado financeiro.
Na RBS, a grande mudança no tratamento das pesquisas ocorreu após a renhida eleição de 1998 que levou Olívio Dutra e Antônio Britto ao segundo turno. Num clima político tão apaixonado como agora, e para evitar suposições de favorecimentos, me vi, como diretor de Redação de Zero Hora, compelido a produzir seguidas manchetes com a mesma e exata formulação, pesquisa após pesquisa. Só mudavam os números: “Pesquisa Ibope: Fulano tem x% e Ciclano y%”. Do ponto de vista jornalístico, era uma incongruência.
Olívio venceu aquela eleição por 50,78% a 49,22%, na margem de erro do Ibope, mas os protestos foram tantos que Nelson Sirotsky teve a ideia de encararmos de frente as pesquisas. E assim, logo após o pleito, promovemos no auditório da Assembleia Legislativa um dia de debates sobre o tema. Dirigentes partidários, Justiça Eleitoral, jornalistas e dirigentes de institutos discutiram a fundo as pesquisas para chegar a uma conclusão: pesquisas são parte inerente das eleições, mas não devem ser suas protagonistas. Desde então, a RBS trata pesquisas apenas como mais um acessório eleitoral. E, felizmente, nunca mais foram manchete de Zero Hora.