Por Marli Knorst, chefe do Serviço de Pneumologia do HCPA e professora da Faculdade de Medicina da UFRGS
Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A redução no número de fumantes na população adulta brasileira, hoje em torno de 10%, é um motivo para comemorar. Por outro lado, o uso do cigarro eletrônico por um em cada cinco jovens causa grande preocupação. Apesar de proibido no Brasil desde 2009, o chamado vape pode ser comprado tanto na internet como em algumas lojas físicas.
É o momento de pais, professores e profissionais de saúde se unirem na campanha para proteger crianças e jovens desta nova cilada
Na realidade, é uma versão do cigarro em uma “roupagem” mais tecnológica e não é inofensivo à saúde. No cartucho do aparelho está presente a nicotina, em doses que podem ser extremamente altas – muitas vezes acima do descrito na embalagem –, causando dependência. Há ainda inúmeras outras substâncias irritantes ao organismo, algumas delas cancerígenas.
Embora os efeitos do uso do vape em longo prazo não sejam totalmente conhecidos, sabe-se dos efeitos nocivos da nicotina ao sistema cardiovascular. Agudamente, o vapor pode causar constrição dos brônquios, tosse e piorar a evolução de doenças respiratórias prévias. Partículas muito pequenas do vapor chegam aos alvéolos pulmonares e podem, através da corrente sanguínea, atingir outros órgãos do corpo.
Em 2019, uma nova doença, associada ao uso do cigarro eletrônico – que recebeu o nome de evali – foi descrita nos EUA. Mais de 2,8 mil casos de lesão pulmonar aguda grave, principalmente em jovens, foram relatados. A maioria necessitou de internação em UTI e ventilação mecânica. Cerca de 260 morreram. Também há vários relatos de explosões de baterias de cigarros eletrônicos, causando queimaduras, lesões de pele e até fratura de vértebra.
O cigarro eletrônico também não é uma alternativa para quem quer parar de fumar, pois cerca de 80% das pessoas que o utiliza acabam viciadas nele depois de um ano. Tratamentos eficazes, seguros e que quebram o ciclo de dependência à nicotina estão disponíveis para abordagem do tabagismo.
Cigarro eletrônico também é cigarro. É urgente que se iniba sua comercialização. É o momento de pais, professores e profissionais de saúde se unirem na campanha para proteger crianças e jovens desta nova cilada!