Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Cidades inteligentes. O termo, cada vez mais lido e ouvido, se prolifera. Vários eventos sobre o tema e rankings são criados e há muitas cidades se dizendo inteligentes. No imaginário e senso comum, o conceito está associado à tecnologia e à conectividade. Ele significa isso, também, mas é muito mais.
Mobilidade é uma questão crucial em um mundo onde 84% da população vive em áreas urbanas
Cidades inteligentes são aquelas que estimulam ações criativas e sustentáveis do ponto de vista social e ambiental, fazendo uso de modernas tecnologias na solução de seus desafios e problemas, envolvendo a participação dos cidadãos. As cidades inteligentes promovem a interação das pessoas com as novas tecnologias, utilizando energia, materiais, serviços e financiamento para promover o desenvolvimento social e econômico e a melhoria da qualidade de vida. Para ser inteligente, uma cidade precisa ter serviços inteligentes: saúde, educação, energia, mobilidade e gestão pública, entre outros. Isso passa pela inovação e pela tecnologia, que promovem eficiência e efetividade, mas, para ser inteligente, uma cidade tem que ser pensada e construída para pessoas.
Em 1939, foi inaugurada em Vacaria, RS, a primeira estação rodoviária do Brasil. Apesar de algumas resistências e ceticismo, a ideia se confirmou efetiva, tanto para facilitar a vida dos passageiros, trazendo segurança e facilidade, quanto para os transportadores, já que o custo poderia ser dividido, sem a necessidade de estruturar um local em cada empresa para essa finalidade.
A realidade, 83 anos depois, na era das cidades inteligentes, é que o Estado tem 64% das cidades sem estação rodoviária. Pode até não ser uma preocupação sua, mas mobilidade é uma questão crucial em um mundo onde 84% da população vive em áreas urbanas. E a conexão entre as cidades faz parte da mobilidade. Como o Brasil é dependente do modal rodoviário – há muito, as ferrovias foram praticamente abandonadas, até para transporte de carga –, o transporte rodoviário é parte do desenvolvimento.
Pessoas expostas à chuva, a riscos de todo tipo e sem condições de deslocamento – além de rodoviárias, faltam linhas de ônibus – mostram um quadro degradante. Governos e empresas dizem não conseguir arcar com os custos, embora os preços das passagens não sejam baixos.
A equação não é simples de ser resolvida. Porém, uma cidade, um Estado ou um país, onde os serviços – públicos e privados – não forem pensados para as pessoas, jamais será inteligente. Por aqui, seguimos dependendo do clima e do jeitinho, nos esquivando das poças de descaso que se multiplicam por aí.