Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro, consultor e jornalista
A indústria da desinformação cresce vertiginosamente no Brasil. E com a campanha eleitoral que vem aí, certamente vai ganhar novos e perigosos impulsos. Até que ponto a veiculação de mentiras tomará conta das redes sociais? Este tema foi tratado no podcast SpinCast, criado e apresentado por Zeca Martins, disponível no Spotify. Zeca conversou com Sérgio Ludtke, editor-chefe do projeto Comprova, uma coalizão de 24 veículos de comunicação para verificar conteúdos falsos; Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa, que verifica procedência de notícias e Daniel Bramatti, ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e diretor da área de dados do jornal O Estado de São Paulo. Em pauta, a Infodemia, criada para deformar informações. Aqui vão alguns pontos que anotei.
É necessário aumentar o custo da mentira. Quando não tem ninguém que diz que o que você está falando é mentira, o custo dessa inverdade é zero. Alguém mente e a veracidade do que é dito não é checada. Estamos dando pesos iguais para uma opinião e um dado de realidade confirmado cientificamente. Em nome da liberdade de expressão, acabamos admitindo posicionamentos intolerantes, o que está nos consumindo enquanto sociedade. Até que ponto a liberdade de expressão pode ser usada para distorcer fatos e favorecer condutas criminosas? Todas as pessoas se transformaram em mídia? E aquelas que espalham notícias falsas, não questionam suas posições e induzem a sociedade a tomar decisões a partir de equívocos?
Para que alguém fale de determinado assunto, é preciso que, pelo menos, tenha conhecimento e respeito pelo fato. Não é possível atropelar os acontecimentos em nome de uma única visão de mundo ou de uma agenda oculta. Muito do que corre pelas redes hoje contamina o princípio da autoridade legítima. Há uma agenda militante de manipulação maldosa, que repercute a falsidade. Precisamos deixar as pessoas constrangidas por não buscar a verdade. Até porque está em curso a desconstrução da realidade para que o autoritarismo se imponha. O ato jornalístico, como fiscalização do poder, vem sendo duramente atacado. Estamos semeando a desinformação.
É normal que existam linhas editoriais distintas nos veículos. O que não se pode aceitar é o jornalismo de militância. É preciso ouvir a população, os leitores, os telespectadores porque somos seres plurais. O que deve ser atacado é o viés ideológico que alimenta a falsidade. Nega o desmatamento, o problema climático, a formação do universo e estimula o uso da cloroquina. A questão da saúde é um tema presente e incentivar a automedicação desrespeita a medicina e a ciência.
Diante do caos, a mídia tradicional como referência de boas práticas cresceu e o fazer jornalístico sai fortalecido deste embate. Há uma encruzilhada entre o que é jornalismo profissional e o que é opinião. Disputamos a atenção das pessoas com conteúdos. Mas há aí uma concorrência desleal: fatos, contra informações desarticuladas, fruto da imaginação das pessoas. A mentira e a opinião são "descontraídas", enquanto que a narrativa jornalística séria é um pouco mais quadrada, pois tem um método que visa informar corretamente. Estamos diante de um grande desafio! Pode ser um farol para a sociedade. Vamos ter que utilizar novas linguagens e aprender com pessoas como o Felipe Neto, por exemplo.
O grande incentivador da confusão tem sido o governo federal. Por incompetência ou projeto. Como a sociedade se protege? Não estamos querendo a censura, que é algo que vem do estado. Queremos regras em plataformas privadas, como o Facebook. Não podemos deixar que essas redes sejam usadas para disseminar mentiras, que podem até matar, como no caso da pandemia. E tem, ainda, discurso de ódio. Precisamos traçar uma linha baseada na civilização. Cerca de 70% da desinformação vem das pessoas e não de robôs, segundo pesquisa do MIT. Robôs não criam desinformação. Dão amplitude ao discurso que sai da cabeça de um humano – contra o inimigo, vale mentir. O caminho, portanto, está na legislação e na educação. Sem o exercício da ciência, da política e do jornalismo, não vejo dias melhores. As crianças e os jovens precisam entender este momento.