Por Luciano Alabarse, secretário municipal de cultura de Porto Alegre
Eu amo Regina Duarte. Eu odeio Regina Duarte. Prepare-se: nos próximos dias, se você se interessa por cultura, será impossível evitar tal posicionamento à respeito da artista. O que vai gerar manifestações de amor e ódio à consagrada atriz é sua decisão de participar, em cargo relevante, do governo Bolsonaro.
Num Ministério que não é mais Ministério, esvaziado e errático, o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, ao substituir todos os nomes relevantes dos principais cargos da pasta, promoveu desmonte e desmoralização das instituições governamentais da área. Não só por seu vídeo constrangedor, onde emulou estética e conceituação nazista sobre a função da cultura em nossa sociedade, a saída de Alvim era imperiosa. Mesmo os mais intransigentes defensores do Presidente concordaram que era impossível sua permanência no cargo. Vai Alvim, chega Regina.
Conheço ambos. Alvim esteve presente no Porto Alegre em Cena em três ocasiões, com espetáculos que mereciam estar aqui. Regina me recebeu em sua casa anos atrás, a pedido do meu amigo Linneu Dias. Foi cordial e receptiva, qualidades que meu amigo Zé Vitor Castiel me confirmou em conversa informal sobre a veterana atriz.
Artistas contribuem para a imagem positiva que o Brasil projeta para o mundo
Não sou, nunca fui, adepto do "quanto pior, melhor". Espero que a chegada de Regina Duarte apazigue o território calcinado da cultura brasileira. Porque dói ver certas acusações dirigidas à classe artística do país, como se fossemos uma quadrilha oportunista dilapidando as riquezas pátrias. É o contrário. Artistas contribuem para a imagem positiva que o Brasil projeta para o mundo. É na produção cultural que identificamos nossas qualidades e mazelas e nos reconhecemos como povo brasileiro.
Podemos discordar dos posicionamentos políticos de Regina Duarte. Normal, num país partido ao meio como o nosso. Mas atacá-la como Alvim fez com Fernanda Montenegro, nunca. Sem essa de jogar pedras antecipadas na Regina.
Deixemos ela dizer a que veio, e voltamos então a conversar.
