Por Davi D'Avila Souza, graduando de Administração na UFRGS e estagiário do Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Raça e Etnia (AKANNI)

Um vídeo de dois policiais militares batendo em dois jovens motoqueiros em Pelotas teve uma grande repercussão nesses últimos dias no Rio Grande do Sul. Outros vídeos de Estados como Maranhão e São Paulo (o massacre de Paraisópolis) também estão sendo muito divulgados. Esses casos, que estão longe de serem isolados, deveriam nos envergonhar. Os moradores da periferia conhecem bem a maneira violenta que age, quase sempre, a polícia militar. Essa diferença é bem clara quando vimos o tratamento dispensado em áreas nobres. Esse tratamento deveria ser a norma, a regra de uma polícia militar que deveria, acima de tudo, proteger e não amedrontar. O respeito à dignidade humana deveria ser o norteador de todos os policiais.
Não acho normal eu ter medo da Brigada Militar. Deveria me sentir protegido por el
Não acho normal eu ter medo da Brigada Militar. Deveria me sentir protegido por ela, no entanto, não é isso que eu sinto. Dados recentes nos mostram que jovens negros e pobres são as maiores vítimas da violência policial. Eu tenho exatamente essas características. Como se sentir protegido quando ser pobre é sinônimo de ser um criminoso? O estereótipo racista que foi colocado nos homens negros, de serem brutos, violentos e bandidos, infelizmente ainda está muito vivo no imaginário popular. E na lógica policial também.
As últimas eleições demonstraram que a segurança pública é a maior preocupação dos brasileiros. Mesmo assim, não tivemos nenhum plano nacional de segurança pública que envolvesse toda a sociedade. Infelizmente, no desespero provocado pelo medo, as pessoas acreditaram que o que falta em um dos países mais violentos do mundo era mais repressão. Não me parece inteligente acreditar que resolveremos a violência com mais violência. Precisamos mais do que nunca pensar em uma política de segurança pública que não veja pobres e negros como inimigos do Estado. Quando isso acontecer, não teremos mais vídeos como aquele de Pelotas nem massacres como o que tivemos em Paraisópolis, e então, finalmente, eu deixarei de temer aqueles que deveriam me proteger.