O país viveu, nos últimos três anos, a rotina frustrada de tatear em busca de indicadores que apontassem, enfim, uma retomada da economia digna de nota. Após voltar a ser assustado pelo fantasma da recessão no segundo trimestre, o Brasil tem, nos últimos meses do ano, sinais um pouco mais firmes de tração na atividade. Mas não é possível se iludir e baixar a guarda. A tênue recuperação segue distante da cadência que seria desejada e, exatamente por isso, é um risco que o governo e o Congresso se acomodem e percam o gás no andamento das reformas, como a tributária e a administrativa.
O ideal seria que Executivo e parlamento não retirassem o pé do acelerador das reformas medulares e alicerçadoras de um horizonte fiscal menos desafiador que melhoram o ambiente de negócios
Inflação controlada, juro baixo, melhora nas vendas do comércio com a ajuda da liberação do FGTS, ritmo da construção civil em ascensão e setor de serviços também indicando mais ânimo são alguns dos fatores que permitem resgatar certo otimismo, mesmo que com prudente moderação. Ao mesmo tempo, o saldo de vagas com carteira assinada vem apresentando resultados positivos, embora o desemprego permaneça alto. Tudo isso leva ao consenso de que o Brasil deve encerrar 2019 com um crescimento ao redor de 1%, mas, com a economia em rotação mais alta, o avanço poderia ser próximo de 2% em 2020.
O ideal seria que Executivo e parlamento não retirassem o pé do acelerador das mudanças medulares e alicerçadoras de um horizonte fiscal menos desafiador que conduzem à melhora do ambiente de negócios no Brasil. Decepciona, por exemplo, o adiamento da reforma administrativa para 2020. Mostra fragilidade o governo ao ceder à pressão exatamente dos estratos mais abastados do funcionalismo e adiar a entrega do projeto ao Congresso. O próximo ano é de eleições, um período em que sempre o mundo político está mais suscetível a chantagens vindas de corporações e há maior receio de adotar medidas impopulares, mesmo que inadiáveis. As incertezas, assim, crescem.
Desassossega, da mesma forma, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, esteio da credibilidade do governo, possa ser mais um elemento a criar ruídos. Tem inequívocos méritos como ideólogo das reformas, mas foi inteiramente infeliz na noite de segunda-feira ao citar a possibilidade de algo como um novo AI-5 no Brasil. Apenas cria instabilidades desnecessárias. A crise brasileira é estrutural e profunda e os remédios têm de estar à altura do desafio. Tanto no discurso quanto nas medidas, o país precisa mostrar, a cada dia, ser merecedor de crédito. Sob pena de a frágil recuperação da economia voltar a revelar-se fugaz.