Por Renata Brasil Araujo, psicóloga, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)

A nova Política de Saúde Mental e de Álcool e Drogas proposta pelo governo tem gerado debates e reações apaixonadas. Os temas polêmicos da mesma são: a primazia do modelo abstinência no atendimento de dependentes químicos, o financiamento de tratamento em comunidades terapêuticas, a possibilidade da utilização de eletroconvulsoterapia e o apoio a leitos em hospitais psiquiátricos.
Um bom parâmetro para avaliar as políticas é pensar o que seria o melhor para nossos familiares: Se o seu filho começar a usar drogas e ficar dependente, você prefere que ele fique abstinente, ou que reduza a quantidade? É claro que se ele não quiser ou não conseguir parar, deve-se reduzir danos, como prevê a proposta! Mas deve ser a primeira opção?
Se seu pai tiver uma depressão grave e tentar suicídio, é preferível que ele seja internado em um hospital psiquiátrico, que seja ético e técnico, ou que fique desassistido? Isso não significa que ele será institucionalizado! E se ele não melhorar com as medicações, você prefere que ele continue deprimido, ou que faça eletroconvulsoterapia pelo SUS, um procedimento indolor e efetivo, com o acompanhamento de um anestesista? Hoje há muitos entraves para fazê-lo sem custo.
Se a sua irmã usar crack, e quiser ficar mais tempo afastada de riscos, você prefere que o governo pague o tratamento em uma comunidade terapêutica, que é aberta e voluntária, ou que se omita e que você tenha que pagar por ele? A comunidade credenciada deve ser fiscalizada e oferecer um tratamento baseado em evidências, mas não é pelo fato de muitas delas serem de orientação religiosa que se tornam "inimigas públicas"!
Se você foi sensato nas respostas, pensou que o bem do seu familiar deve estar em primeiro lugar, desde que o tratamento seja efetivo e esteja de acordo com os Direitos Humanos. Assim, vamos defender políticas públicas para os nossos e não para os filhos dos outros para não sermos coniventes com formas mascaradas de desassistência.