O descontingenciamento de quase R$ 2 bilhões pelo Ministério da Educação, sendo cerca de R$ 1,15 bilhão para as universidades federais, é um alívio necessário para garantir o funcionamento mínimo de instituições ligadas ao ensino e à pesquisa e que dependem do orçamento da União. Com o oxigênio dos recursos, será possível fazer frente às despesas mais urgentes, como serviços de limpeza e contas de luz e água, e afastar o risco de paralisação de aulas. Mas o fôlego é curto. Nos próximos meses, se nova liberação não for feita, a agonia estará outra vez batendo à porta.
A sociedade deve exigir das autoridades que comandam o ensino ao menos um aceno para o início de um diálogo mais construtivo
A discussão em torno dos recursos, por outro ângulo, traz a desanimadora constatação de que o país ainda está perdido em temas miúdos quando o assunto é uma área em que tem um desempenho muito aquém do aceitável para uma das maiores economias do mundo. O essencial, neste momento, seria um debate mais profundo sobre os modelos de educação e sua eficiência desde as séries iniciais, o papel dos professores e os caminhos que deveriam ser seguidos na produção de ciência e tecnologia para criar um ambiente favorável à formação do capital humano que a era do conhecimento exige. É a única forma de o país conseguir dar um salto de qualidade e se inserir de forma competitiva na disputa global por espaços. Para isso, a sociedade deve exigir das autoridades que comandam a educação ao menos um aceno para o início de um diálogo mais construtivo.
É lamentável perceber que continuamos retardatários nessa corrida, ainda presos a discussões deslocadas no tempo, como se vivêssemos no período anterior à queda do Muro de Berlim. Enquanto ainda se debate tendo a ideologia como norte, vale lembrar que, há três meses, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deu novos números para a tragédia nacional. Mais da metade da população com 25 anos ou mais nem sequer concluiu o ciclo básico, que vai até o Ensino Médio. Um terço nem o fundamental completo possui. Assusta que ainda hoje existam 11,3 milhões de brasileiros que não sabem ler ou escrever.
Faria bem ao país e ao próprio governo se o ministro da Educação, Abraham Weintraub, deixasse um pouco de lado as provocações nas redes sociais, que nada constroem, e finalmente apresentasse um plano robusto, capaz de reinventar a área no Brasil. Contingenciamento de recursos não é uma exclusividade da gestão atual. Mas o tom de permanente confronto apenas dificulta a pacificação de que o país precisa para, no futuro, deixar as atuais posições vergonhosas em que está nos rankings de aprendizado e escolaridade.