Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
A belga Hilde Dosogne, de 55 anos, correu uma maratona por dia. Sim, todos os dias de 2024 ela correu 42,5 quilômetros, mais do que os oficiais 42,195 quilômetros de uma maratona, para garantir que nenhum erro de medição fosse atrapalhar seu feito. Foram 366 maratonas, porque 2024 foi um ano bissexto. Hilde quer entrar para o livro dos recordes, superando a atual marca de 150 maratonas em um ano, mas, além disso, arrecadou 60 mil euros para a pesquisa de câncer de mama.
Um terço dos alimentos produzidos é desperdiçado, sendo 64% nas nossas casas
Correr não é fácil. Embora seja um esporte que cresce, apenas 13% das pessoas no mundo o praticam e menos de 1% já completaram uma maratona. Avisando, para quem não é do esporte: o ciclo de preparação da prova é de seis meses. Ela se preparou em um dia. Enquanto corria uma maratona, no caso. Pulando o descanso, que pode chegar a mais de 30 dias. E trabalhando normalmente meio período. Fisiologicamente parece impossível. E ela fez.
Se uma pessoa consegue fazer isso, consegue muita coisa.
E os exemplos estão aí: o ser humano inventou a internet, que participa – e às vezes domina – de quase todas as nossas ações. Também a possibilidade de utilizar as energias limpas, solar e eólica, reduzindo a demanda por combustíveis fósseis. Criou remédios e vacinas contra doenças que matam, reduziu a mortalidade infantil e aumentou a expectativa de vida em mais de 20 anos de 1950 até hoje, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já em 1969 uma pessoa tocou o chão da Lua.
Se a humanidade pode fazer isso, pode muito mais. Podemos diminuir o consumo, refletindo sobre sua real necessidade, e isso vale para itens descartáveis e até roupas. Podemos reduzir os 21% da produção de alimentos do mundo que é perdida dentro das nossas casas, ajudando a reduzir a fome e a pobreza. Tenho certeza de que, refletindo, somos capazes de agir no nosso dia a dia para combater as desigualdades de gênero e raça. Com um pouco de cuidado, conseguimos até verificar as falsas notícias recebidas e parar de compartilhá-las. Sim, nós podemos fazer melhores escolhas. Vamos?