Com generalizada atenção e alertas da imprensa internacional, são cada vez mais preocupantes as consequências da desastrada política ambiental do governo Jair Bolsonaro. O mais recente episódio, com a demissão do presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), se soma a outros atos e declarações irresponsáveis que, muito além de corroer ainda mais a imagem do país no Exterior, embutem riscos econômicos palpáveis, como possíveis entraves ao acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e potenciais boicotes a produtos nacionais em mercados estrangeiros.
Nos confins do Brasil, a postura presidencial é recebida como uma senha para que se avance sobre a mata e se invadam terras de povos indígenas
Ao reclamar da divulgação de dados científicos sobre o desmatamento na Amazônia apresentados por uma instituição internacionalmente reconhecida e contestá-los sem argumentos críveis, Bolsonaro passa a impressão de que não está preocupado com a derrubada da floresta. Mas apenas com a difusão das informações. Nos confins do Brasil, a postura presidencial é recebida como uma senha para que se avance sobre a mata e se invadam terras de povos indígenas, ao mesmo tempo em que órgãos como o Ibama são desmantelados e desprestigiados pelo próprio Planalto. Mesmo que possa ser uma compreensão equivocada, a conclusão no Exterior é de que o governo chancela a atividade de madeireiros irregulares e garimpeiros ilegais e incentiva que se ponham árvores abaixo em nome da prática de uma agricultura e pecuária superadas há décadas, que nada têm a ver com o moderno agronegócio brasileiro.
A demonstração de desdém de Bolsonaro pela preservação da natureza faz com que veículos de comunicação de todo o mundo comecem a alçá-lo à condição de vilão planetário. É um retrato pintado inclusive pela revista britânica The Economist, que nem sequer os mais delirantes combatentes do tal marxismo cultural poderiam acusar de ter vínculos com a esquerda. Enquanto isso, medidas positivas do Executivo, como as propostas que visam a desburocratização, privatizações e o programa Médicos pelo Brasil acabam encobertas pela autossabotagem em série produzida pelo próprio governo, insistindo em agendas esdrúxulas.
Espera-se que as próprias entidades do agronegócio, com visão racional e estratégica, comecem a pressionar o governo para que revise suas atitudes. A conduta atual é – em uma linguagem simplificada que possa facilitar o entendimento de quem apoia essa inconsequência – um tiro no pé. E o quadro pode ficar ainda mais crítico caso o governo prossiga no erro de destruir a credibilidade do país ao tentar torturar números de desmatamento para mascarar uma verdade inconveniente.