Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
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As retaliações entre Estados Unidos e China complicam nossa vida, mas as consequências dependerão do próprio Brasil. O caminho a seguir diante de cenário externo adverso nunca vem sem dúvidas. E ideologia e emocionalismo nem sempre são bons conselheiros nesta hora, quando o pragmatismo do que é melhor comercialmente para o país deve prevalecer.
Na depressão dos anos 1930, Keynes surpreendeu ao aconselhar os ingleses que tratassem da economia interna e deixassem que o resto do mundo cuidasse de si mesmo. A mensagem subentendia que o Império Britânico não era mais hegemônico e remotas eram as chances de resolver a crise através do comércio exterior, pois todos estavam no mesmo barco. Muito se discute se tal conselho faria sentido atualmente, com a globalização financeira e produtiva e a velocidade das informações (a queda da bolsa de Nova York, em outubro de 1929, só repercutiu no Brasil em meados de 1930; hoje seria instantaneamente). A questão da autonomia das políticas nacionais parecia pender para seu aniquilamento, até que o Brexit, Trump e os movimentos nacionalistas europeus acenaram para direção oposta. E o conflito entre EUA e China traz de volta o que parecia ter ficado no passado: guerras tarifárias e cambiais em nome do protecionismo.
O novo contexto reatualiza a frase de efeito de Keynes, pois, se bem conduzida, a política externa abre espaço para a barganha e novas oportunidades. Os dois países são os principais parceiros comerciais do Brasil. O Itamarati tem sinalizado os EUA como principal aliado, o que recorda uma ideologia da época da Guerra Fria e que os próprios americanos já superaram: a briga com a China é simplesmente econômica, pois nesta o socialismo é tão passado como é o Oeste selvagem dos faroestes americanos. E, para o agronegócio, os EUA são concorrentes, enquanto a China é o principal cliente. Estaria o governo brasileiro disposto a prejudicar um dos mais pujantes setores da economia, além de sua base de apoio? Lembremos que o país passa por uma estagnação duradoura da qual dificilmente sairá sem ampliar seu comércio exterior. E, por sua dimensão, não é desprezível no jogo, seja como exportador ou importador. Temos a tendência histórica de culpar os outros pelo fracasso de nossas decisões equivocadas. Desta vez, avisos não faltam.