Ainda falta apurar todos os detalhes _ o que precisaria ter sido feito há muito tempo _, mas, desde já, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deve ser responsabilizado pelo escandaloso vazamento de dados cadastrais de aposentados. O Ministério Público e a Polícia Federal precisam ir a fundo para que seja possível identificar e punir os envolvidos nesse esquema de sistemático desrespeito a quem simplesmente imaginava poder aproveitar a fase de inatividade sem sobressaltos desse tipo. Sigilo bancário é protegido por lei e mesmo as novas normas do INSS, em vigor desde 1º de abril, não estão servindo para proteger os interesses de quem virou alvo preferencial de profissionais habituados a viver de ganhos financeiros.
É inadmissível que muitas pessoas se deem conta da conclusão do processo no INSS por meio de telefonemas de financeiras
Como demonstra reportagem publicada por Zero Hora, há sinais evidentes de uma rede de conivência com quem tem como principal objetivo se aproveitar da vulnerabilidade de cidadãos com uma renda fixa e certa para burlá-los com empréstimos consignados, nem sempre dentro da lei. O agravante é que, em muitos casos, as vítimas do esquema são idosos, algumas vezes vulneráveis. O fato de a apuração jornalística demonstrar que, em algumas financeiras, basta fornecer o número do CPF do aposentado para que o funcionário acesse o cadastro, fornecendo os limites de crédito disponível e as condições de pagamento, dá uma ideia da total falta de confidencialidade dos dados.
É inadmissível que muitas pessoas se deem conta da conclusão do processo no INSS por meio de telefonemas de financeiras. Os cidadãos não podem simplesmente desconfiar que já estão aposentados por terem se transformado em alvo de uma poderosa máquina estruturada por todo o país. O interesse desse tipo de atividade é faturar com empréstimos consignados de baixo risco, devido à reduzida inadimplência.
O desrespeito é tão grande, que muitos aposentados são bombardeados por telefonemas feitos inclusive por máquinas, e durante a madrugada, além de repetitivos e-mails, cartas e mesmo mensagens por aplicativos. Fica difícil entender como um esquema desse porte, com base no qual muita gente fatura alto, possa seguir impune durante tantos anos, enquanto as autoridades se mantêm impassíveis.