Por Igor Oliveira, consultor empresarial
O governo brasileiro, sobretudo na era PT, elegeu os grandes players da cadeia da proteína animal como prioridade na política industrial. Subsidiou crédito, perdoou tributos, fez tudo o que era necessário para que esses players crescessem. No início dos anos 2000, isso fazia algum sentido sob um olhar desenvolvimentista. Após décadas subsidiando grandes culturas agrícolas, como a soja, que é insumo do gado de corte, a ideia era avançar um elo na agregação de valor e exportar carne. Deu errado porque a estratégia de campeões nacionais – importada de experiências como a da Coreia do Sul – só funciona em contextos muito específicos.
Quero propor, aqui, uma reflexão diferente. Imagine que os subsídios agrícolas e industriais deixassem de existir. Repentinamente, a lógica do livre mercado realmente passasse a prevalecer. A capacidade instalada de produção e processamento de soja seguiria existindo. O que o produtor de soja poderia fazer para viabilizar seu negócio, que hoje só é possível graças aos subsídios?
Parte da solução estaria em diversificar. Plantar outras culturas, principalmente de maior valor agregado. Atuar também em outros elos da cadeia: insumos, serviços, processamento.
Uma estratégia importante seria buscar agregar mais valor à própria soja. Nesse ponto, o grande fazendeiro teria que enfrentar uma realidade inconveniente: a soja vale mais nos mundos da alimentação vegetariana e dos biocombustíveis do que na cadeia da carne. A chance de descomoditizar a soja é muito maior se o cliente do agricultor não estiver nessa cadeia.
Hoje, 14% dos brasileiros são vegetarianos, índice que dobrou em seis anos. Se houvesse livre mercado, faria sentido para o lobby da soja incentivar a dieta vegetariana no Brasil e no Exterior para ter alguma chance de seguir ganhando dinheiro. Imagine que coisa interessante, ruralista fazendo churrasco de tofu! De toda forma, seria bonito ver esse pessoal ter que revolucionar seus próprios modelos de negócio após décadas colhendo os benefícios sem absorver os riscos, que ficam na conta do povo.