Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
O poder é altamente intoxicante. Diariamente, somos estimulados a buscar um lugar de poder. A idealização da grandiosidade de ocupar um espaço de poder é valorizada e, muitas vezes, desejada por alguns de nós.
Manfred Max-Neef, um grande economista chileno, premiado no mundo todo, diz que “o exercício do poder vicia”. Uma vez experimentado, pode nos levar para lugares distantes do real propósito de nossas ações.
No ambiente do trabalho, frequentemente vivenciamos situações onde os interesses dos grupos ou da empresa são jogados de lado em detrimento de uma disputa entre os dirigentes da instituição, o chamado Second Job. No ambiente familiar, isso também é muito comum. Famílias nas quais os irmãos disputam poder entre si, pai e mãe, filhos. A necessidade de controle, de dizer o que o outro deve fazer e como deve ser feito, está presente em muitos lares travestido muitas vezes de “cuidado”. Esse funcionamento de tentativa de comando impossibilita a construção de relações saudáveis.
Como diluir ou distribuir essa responsabilidade entre todos os envolvidos na questão? Durga Curtinaz, uma grande amiga, mediadora de conflitos e advogada colaborativa, responde: “Com o diálogo, a escuta, a prática da empatia. Se nos disponibilizamos na construção de uma conversa onde eu realmente me interesso pelo que se passa com o outro, onde eu desejo saber qual é a real intenção do outro, talvez eu encontre pontos de pura empatia entre nós, e o que será decidido partirá de uma construção coletiva e não de uma decisão isolada”.
O que é possível perceber nas ações motivadas pelo poder é que, nessas situações, o outro pouco importa. O que vale é que sua decisão prevaleça. Infelizmente, a crença “manda quem pode, obedece quem precisa” é algo bem atual e presente nos dias de hoje.
Essa semana, presenciamos no Brasil a típica intoxicação pelo poder: decisões conflituosas e vexatórias dos ministros do STF Alexandre de Moraes, que determinou censura à Revista Crusoé e ao site O Antagonista, e do presidente do STF, Dias Toffoli, que determinou abertura de inquérito sobre as ofensas aos ministros do STF. Os dois cometeram aberrações jurídicas, desrespeitando à legislação e à hierarquia dos poderes. A procuradora-geral da República, Raquel Dogde, exercendo seu poder, pediu o arquivamento do inquérito por não atender o que determina a legislação. Além das contradições jurídicas e legais, o que está em jogo não é o que determina a lei e, sim, a intoxicação pelo poder. Acontece na mais alta Corte, com nossos governantes, com nossas transações comercias, no mundo corporativo, em nossas famílias e relações.
O que alimenta a existência do poder? A serviço de que ele está? Essas perguntas dificilmente serão respondidas porque, no geral, estamos tão seduzidos pela idealização da busca do poder que não paramos para investigar e olhar para tudo isso.