
Por Fernanda Melchionna, deputada federal (Psol)
Era noite de quarta-feira, 14 de março de 2018. Depois de um longo dia de atividade, entre tantas mensagens no whatsapp, chegou aquela que eu nunca gostaria de ter lido: "Vereadora do PSOL, Marielle Franco, é morta a tiros na Região Central do Rio de Janeiro". Sobraram lágrimas, faltaram palavras.
Conheci Mari em uma visita à favela da Maré, em 2012, junto com Marcelo Freixo. Sua força, sua beleza e seu sorriso largo me conquistaram imediatamente. Feminista, negra, lutadora em defesa dos direitos humanos, ela era um orgulho para todas nós. Infelizmente, sem saber que seria pela última vez, nos reencontramos três meses antes daquela triste noite.
Sem dúvida, o assassinato político de Marielle, e também de Anderson, era um sinal de que tempos piores viriam. Quando a política cede terreno à brutalidade, quando o ódio passa do verbo à carne, muitos dos motivos que nos levam a lutar se recrudescem. O primeiro a chegar, naturalmente, é o medo. Mas esse nunca seria seu legado. Na longa madrugada do assassinato, depois do choro, resolvemos que o luto deveria ser luta.
Embora tardia, a prisão dos possíveis executores desse crime brutal é certamente um passo no contexto da investigação, mas até hoje, quando completa um ano de sua morte, ainda não sabemos quem mandou matá-la e desconhecemos a motivação. Ao que tudo indica, existe uma relação estreita com as milícias e seus tentáculos. Muito ainda precisa vir à tona, inclusive as relações que esses grupos mantêm com o Estado, afinal, no Rio de Janeiro, crime, política e polícia se misturam.
Não silenciaremos um minuto enquanto não soubermos quem mandou matar Marielle. Depois daquela noite, tentaram muitas vezes assassiná-la de novo. Mentiras, preconceito, placas em sua homenagem foram quebradas por imbecis. Mas o ódio e o fascismo foram derrotados pela onda de solidariedade internacional que se fortaleceu em torno de seu nome. Marielle virou semente e renasce a cada injustiça. A memória de sua combatividade seguirá florescendo nas lutas de nosso povo, a quem ela deu a vida para defender.