A estratégia usada para a divulgação do mais amplo projeto de reforma da Previdência já encaminhado ao Congresso até agora foi promissora nessa etapa inicial. O presidente da República, Jair Bolsonaro, esteve pessoalmente na Câmara para entregar o texto da proposta de emenda à Constituição (PEC). Fez questão também de se pronunciar por meio de rede nacional para defender a proposta perante a população. A partir de agora, porém, e até a votação das mudanças, será preciso que a equipe ministerial, já em campo, se disponha a navegar pelas complexidades e a vencer resistências de uma oposição organizada pelos interesses contrariados, com diferentes narrativas.
O governo federal está desafiado a demonstrar, na prática, ter aprendido com os erros da gestão anterior, de Michel Temer, que encaminhou um projeto ao Congresso prevendo inicialmente uma economia de R$ 800 bilhões, próxima à de pouco mais de R$ 1 trilhão estimada agora. Acuado por denúncias, o ex-presidente teve que se conformar em ver sua proposta desidratada de forma acelerada, sem conseguir o aval dos parlamentares para aprová-la. O país já poderia ter ultrapassado essa etapa, e o custo teria sido menor para todos.
Eventuais dificuldades na Câmara são justamente o temor de quem está convencido do significado que as mudanças previdenciárias podem ter para o país sob o ponto de vista das contas públicas – e, em consequência, da tão aguardada retomada do crescimento no setor privado. Uma eventual perda da oportunidade de aprovar agora as mudanças na área previdenciária teria consequências danosas para o país, pois elevaria os custos para a sociedade. O que se viu em países como a Grécia serve hoje de exemplo dramático do que pode ocorrer quando os desequilíbrios entre contribuições e compromissos do sistema são subestimados.
Diante da dimensão das mudanças propostas agora, ainda será preciso um amplo trabalho de esclarecimento enquanto durarem as negociações no Congresso, de forma democrática e transparente. É importante que os esforços de didatismo possam mirar não apenas os parlamentares, mas também governadores e prefeitos, que são interessados diretos nas mudanças, além de líderes de toda a sociedade. Esse tipo de preocupação ganha ainda mais relevância diante de fragilidades visíveis no governo Jair Bolsonaro e da falta de articulação que o novo Congresso vem demonstrando.