Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Quando Nick Szabo, Hal Finney e outros membros de uma pequena comunidade criaram o bitcoin no final da década passada, decidiram chamá-lo de moeda por uma questão meramente estética. Era um conceito fácil de entender, que permitiria a difusão dos contratos inteligentes e dos criptoativos de maneira mais rápida.
Injetaram um pequeno vírus no sistema financeiro global. Um experimento extremamente bem-sucedido em demonstrar e exemplificar as possibilidades da descentralização financeira. Nunca foi a intenção dessa comunidade de pioneiros — e isso está claro no código do bitcoin — chegar ao mesmo nível das moedas tradicionais em termos de liquidez e de utilização para transações corriqueiras, de consumo.
Quem entendeu bitcoin como moeda e refletiu essa crença em sua tese de investimento perdeu muito dinheiro a partir do ano passado. Particularmente, não apostaria na recuperação dessas perdas em um horizonte especulativo razoável.
O fato, no entanto, é que esse experimento gerou microrrevoluções em diversos setores: capital de risco, crédito, seguros, remessas internacionais. Em cada um desses mundos, há uma miríade de iniciativas de altíssimo potencial usando verificação descentralizada de transações, que é a essência do bitcoin.
Essas iniciativas têm um traço em comum: a tomada de risco genuína por parte de quem dispõe de maior patrimônio e liquidez. É a característica fundamental que o sistema financeiro tradicional perdeu com a excessiva centralização, securitização e burocratização. Banqueiros sabem que são grandes demais para falir e que os governos virão resgatá-los em caso de crise financeira. Ganham sempre, com ou sem crise.
Já há casos de nações inteiras, como a Geórgia e o Irã, que estão utilizando a tecnologia para reconstruir seus sistemas financeiros. Países marginalizados têm um incentivo maior para tomar esse tipo de risco sistêmico. Um fenômeno muito interessante de observar.
Não acredito que esses novos sistemas financeiros ameacem o sistema financeiro global no curto prazo. As coisas vão andar em paralelo por décadas. E, tudo bem, nada melhor do que poder optar entre alternativas de financiamento e investimento diversas.