Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Observamos, neste início de governo, uma série de anúncios de medidas que rapidamente são anuladas. É natural que as pessoas interpretem esses atos como falhas, típicas de um político que nunca esteve no Executivo e que, agora, lidera o governo de umas maiores nações do planeta.
Gosto da ideia de ter no poder pessoas mais comuns, que não sejam gênios intelectual ou politicamente. Nem FHC, nem Lula. Gente como eu e você. Democrata que sou, o que mais quero é que as instituições fortaleçam-se a ponto de a nação ter a capacidade de seguir em frente com quem quer que seja.
Há, no entanto, outra hipótese possível a respeito das trapalhadas. Que Bolsonaro, bem assessorado em gestualidade, esteja a emitir uma mensagem sobre os limites impostos ao chefe do Executivo federal.
Talvez queira ganhar o direito de dizer que tentou “mudar tudo isso que está aí”, mas que não conseguiu porque seu mandato é limitado demais. Mesmo que não seja intencional, já é possível perceber o crescimento dessa narrativa em alguns segmentos da sociedade. Talvez queira parecer surpreso com o fato de o presidente, em uma democracia, não ter a capacidade de fazer o que bem entende.
As consequências desse tipo de narrativa política costumam ser devastadoras. Das duas uma: sai pela culatra, com a perda do apoio dos outros poderes, ou expandem-se os poderes do presidente. Foi assim em outras nações da América Latina.
E não é absurda a hipótese, visto que Bolsonaro já declarou que “daria golpe” se fosse presidente e que só uma guerra civil que mate “uns 30 mil” poderia mudar o Brasil. Não demonstra respeito às instituições democráticas.
Nesse contexto, não é uma boa estratégia chamar de burros os membros do primeiro escalão. Parecer ingênuo pode ser uma estratégia e, neste caso, quem está sendo manipulado é você. Colocar meia dúzia de palhaços em ministérios de menor orçamento é uma velha jogada para controlar a agenda política e diminuir a pressão sobre o que realmente importa. Não caia nessa.