Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Mais de sete anos atrás, fui um dos iniciadores de um pequeno movimento apartidário que, nas eleições locais de 2012, disponibilizou uma plataforma de código aberto para a sociedade civil. Era uma ferramenta de interação entre eleitores e candidatos, baseada na discussão de propostas.
Tentávamos converter o poder da internet em benefícios aos cidadãos. Com as ferramentas certas, imaginávamos que as pessoas poderiam amplificar seu poder sobre a classe política. De certa forma, antecipamos uma mudança brutal na relação entre o digital e a democracia. Infelizmente, as coisas avançaram em uma direção oposta àquela que pretendíamos.
Hoje, o mundo inteiro paga o preço do oligopólio global das mídias sociais, que vende nossos dados a empresas contratadas por campanhas políticas para nos manipular. Na maior parte dos casos, utilizam uma retórica conservadora, não por crerem no conservadorismo, mas por perceberem que suas narrativas são mais eficazes.
Essas consultorias fazem uma detalhada segmentação da sociedade, baseada na prevalência de diferentes crenças e emoções em diferentes “bolhas”. Sabem exatamente quantos contatos com uma determinada narrativa são necessários para mudar a opinião de cada um desses segmentos a respeito de cada tema polêmico. E não têm problemas em mentir ou praticar crimes para converter mais gente. Em outras palavras, roubam nossa subjetividade e a utilizam para definir quem nos governa e com qual agenda.
Para reagir a esse fenômeno, não basta unir a esquerda global, com seus velhos argumentos, ou apelar para o fact-checking, que só amplia o oligopólio da tecnologia digital. Precisamos criar ferramentas que consigam intervir no momento certo, só que com informações que realmente empoderem as pessoas a reagir contra riscos reais. Lidar com o senso de urgência. Mexer com o que já incomoda, usando o vocabulário de quem está incomodado.