Por Paulo Roberto Kopschina, diretor-geral do DetranRS
Leandro* tinha seis anos e um vira-lata chamado Pitu. Adorava desenhar casinhas, ruas e carros. Dizia que quando crescesse, iria construir casas "de verdade". Contava esse e outros planos para Pitu. Talvez Leandro fosse mesmo se tornar um arquiteto famoso. Talvez mudasse de ideia pelo meio do caminho e abrisse uma telentrega de pizzas. Talvez fosse um solteirão, ou um avô de três netos. Talvez um dos seus netos fosse arquiteto, afinal!
Tudo isso são suposições. Nunca saberemos qual seria o roteiro da vida de Leandro, porque um dos carros saltou para fora de seus desenhos infantis e acabou com tudo o que poderia ter sido.
Leandro aumentou a estatística de mortos no trânsito gaúcho deste ano. Ele foi a vítima de número 1397 (e estamos apenas no meio de novembro). Um número que só tem significado se pensarmos que cada uma de suas unidades representa uma pessoa, alguém que teria um futuro, e cujo destino foi abreviado, sem que pudesse completar-se.
Mas isso ainda pode piorar. Estima-se que para cada óbito no trânsito haja pelo menos dez feridos e sequelados. Então, estamos falando em cerca de 14 mil pessoas cujos futuros foram drasticamente afetados. Mais do que a população de muitos municípios gaúchos. Por ano!
O quadro se amplia ainda, como círculos na superfície da água. Há todos os que orbitam em torno dessas 14 mil pessoas feridas, desses 1397 mortos. Os pais de Leandro, os avós, a irmãzinha, os coleguinhas da escola, os amigos dos pais, até o Pitu – todos são vítimas também. Em resumo, nossa violência está criando um exército de vítimas no trânsito.
O próximo dia 18 de novembro, domingo, é o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito. Uma data criada pela ONU com o duplo propósito de homenagear as vítimas e de refletir sobre o que podemos fazer para que no próximo ano haja menos Leandros com final trágico. Podemos começar por acalmar nossos ânimos e desempoderar nossos veículos. Afinal, após um acidente eles serão reciclados e voltarão como novos carros. De Leandro, só ficará, e para sempre, a saudade.
*nome fictício